INTRODUÇÃO
Diferentemente da audiometria convencional, que abrange as freqüências de 0,25 a 8 kHz, a audiometria de altas freqüências (AAF) vai de 9 a 16 kHz e, dependendo do equipamento utilizado, pode atingir 18 ou até 20 kHz. A idéia de se analisar a audição em altas freqüências teve início na primeira metade do século passado com o monocórdio de STRUYCKEN, em 1910 (1). A presença de respostas auditivas para as altas freqüências é citada por FLETCHER desde 1965, apesar de, nessa época, já ressaltar a escassez de conhecimento quanto a essa habilidade em humanos (2). As células ciliadas responsáveis pela sensibilidade auditiva para altas freqüências estão localizadas na base do ducto coclear.
Essas células serão lesadas inicialmente na possibilidade de um indivíduo desenvolver uma alteração auditiva neurossensorial (1,3). Além da audiometria de altas freqüências ser importante na detecção precoce de perdas auditivas, ela o é também para a monitorização da audição em casos de uso de drogas ototóxicas, a exemplo dos indivíduos que fazem uso de quimioterápicos como a cisplatina, carboplatina, aminoglicosídeos, diuréticos, para evitar um processo degenerativo do órgão espiral ou de CORTI (4,5). VASSALLO et al. (3) pesquisaram limiares nas freqüências de 10, 12 e 14 kHz em adultos sem história otológica ou de exposição a ruído, com idades entre 20 e 50 anos, sendo 39 do sexo masculino e 45 do feminino, subdivididos em três faixas etárias: de 20 a 29, de 30 a 39 e de 40 a 49 anos.
A maior mudança nos limiares ocorreu na freqüência de 14 kHz, com exceção do grupo de 20 a 29 anos do sexo feminino, no qual não houve diminuição significativa da audição nas freqüências testadas. Os indivíduos do sexo masculino apresentaram limiares piores do que o sexo feminino com a mesma idade, em todas as faixas etárias estudadas. NORTHERN et al. (5) testaram 237 indivíduos normoouvintes entre homens e mulheres, com três objetivos: relatar os limiares da AAF em função do sexo e idade, revisar e comparar resultados dos estudos realizados anteriormente, com atenção particular para técnicas diferentes na calibragem e, por último, recomendar valores de padr ões de referência para 0 dBNA, para freqüências de 10.000 a 18.000 Hz. As médias dos limiares obtidas neste estudo pelos autores podem ser vistas no Quadro 1. Os limiares foram obtidos em nível de pressão sonora (NPS) medidos em acoplador de referência para altas freqüências.
Para os grupos de 20-29 e 30-39 anos, os limiares permaneceram relativamente estáveis entre 8 e 12 kHz, mas diminuíram rapidamente para as freqüências acima de 13 kHz. À medida que a freqüência aumentou, o número de indivíduos capazes de responder, em cada grupo diminuiu.
Somente 66% do grupo de 30-39 anos responderam para as freqüências acima de 14.000 Hz. Os estudos, desde 1961, analisados pelos autores apresentaram resultados razoavelmente concordantes para as freqüências de 8 a 12 kHz. OSTERHAMMEL (6) pesquisou a AAF em pacientes normais, em diabéticos e em pacientes com hipercolesterolemia em ambos os sexos com idades entre 9 e 84 anos. Perguntou aos voluntários sobre suas experiências com as altas freqüências após o teste e alguns relataram muito desconforto, quase doloroso quando 18 e 20 kHz foram apresentados na mais forte intensidade (105 dBNPS).
Para outros, foi mais uma questão de "sensação" do que "audição". Outros tiveram dificuldade de distinguir o estímulo sonoro do zumbido subjetivo que muitos apresentam após permanecer alguns minutos em cabine acusticamente tratada. O autor concluiu que perda na audiometria convencional não significa necessariamente perda similar nas altas freqüências e que a AAF é útil na investigação de fatores que podem ser importantes para a presbiacusia e a detecção precoce de efeitos ototóxicos ou lesões devido a fatores ambientais. OLIVA et al. (7), com o objetivo de estabelecer parâmetros de normalidade para a função auditiva nas freqüências superiores a 8.000 Hz, realizaram um estudo preliminar, no qual avaliaram a condução óssea de 100 Hz a 20 kHz.
Eletrodos foram posicionados em ambas ou apenas em uma das mastóides já que, segundo os autores, o sinal elétrico se propaga em qualquer direção como na estimulação por via óssea.
O resultado obtido denota que o limite auditivo para as freqüências agudas somente é alcançado por sujeitos jovens, geralmente com menos de 20 anos de idade. Observou-se esse limite em 19,6 kHz; entretanto, a média para esse grupo etário encontra-se em um nível de 18,5 kHz. À medida que a idade aumenta, este limite máximo diminui, quantificado pelos autores em uns 2.000 Hz por década após os 20 anos. Deste modo, uma pessoa de 45 anos terá uma audição normal até os 14 kHz, aproximadamente. DRESCHLER et al. (8) pesquisaram a utilidade da AAF para monitorar e/ou detectar precocemente a ototoxidade (em especial, a cisplatina).
Os autores verificaram que a AAF é uma ferramenta importante para comparar a ototoxidade de diferentes protocolos de tratamento. Conclu íram que a audiometria de altas freqüências aumenta a detecção da ototoxidade por cisplatina, que as freqüências de 12 e 14 kHz são especialmente importantes, diferentes tratamentos podem ser estabelecidos por meio da audiometria de altas freqüências, a lesão para as altas freqüências acontece mais cedo do que para as baixas freqüências e que a perda auditiva pré-existente muda o padrão, mas não a gravidade por estragos causados por ototóxicos. STELMACHOWICZ et al. (9) investigaram os limiares auditivos nas freqüências de 8 a 20 kHz em indivíduos de 10 a 60 anos de idade, com audição normal e sem antecedentes otológicos.
Para os indivíduos com mais de 30 anos, limites de normalidade em relação à idade e sexo, os autores utilizaram as normas de CORSO (1963). O objetivo dos autores foi estabelecer valores normativos para as altas freqüências e avaliar a variabilidade entre os sujeitos em relação à idade.
Em relação à idade não encontraram diferenças significantes para os grupos de indivíduos com menos de 19 anos, 20 a 24 anos e 25 a 29 anos. Observaram grandes mudanças na sensibilidade auditiva nos grupos acima de 30 anos e nas freqüências acima de 13kHz comparando o grupo de 30 a 39 anos em relação aos mais jovens.
A pesquisa demonstrou uma diferença significativa de sensibilidade auditiva para o sexo masculino, que é de 4.4 dB menor do que a do sexo oposto. Não houve diferença significativa quanto ao fator sexo em relação à freqüência ou idade.
Verificaram que a perda da sensibilidade auditiva em função da idade foi mais rápida na faixa de 15 a 18 kHz, e que em altas freqüências as mudanças em relação a idade começam cedo, mas não progridem rapidamente.
Para todos os grupos, o desvio-padrão aumentou em função da freqüência, alcança seu valor máximo entre 12 e 16 kHz. A freqüência na qual o pico ocorre diminui sistematicamente em relação à idade, e este é consideravelmente mais amplo e menos definido nos grupos mais velhos. Para todos os grupos etários, o desviopadr ão máximo ocorreu na faixa de 70 a 80 dB.
Os autores sugeriram que os limiares obtidos no grupo de 10 a 19 anos (160 indivíduos) fossem utilizados como referência de normalidade para a AAF, já que não foi observado mudança nos limiares nos intervalos de um ano.
As medidas dos limiares obtidas por eles, para o grupo que consideraram que deve ser utilizado para referência de normalidade foram: 8 kHz - 28.29 dB; 9 - 30.12; 10 - 30.38;11 - 34.06; 12 - 36.26; 13 - 40.36; 14 - 44.30; 15 - 50.60; 16 61.42; 17 - 69.43; 18 - 82.64; 19 - 96.25; e 20 kHz - 108.96 dB. ZEIGELBOIM et al. (1) realizaram uma revisão bibliogr áfica sobre a importância clínica da audiometria de alta freqüência e a variabilidade do teste. A importância clínica ficou por conta da detecção precoce da ototoxidade induzida por drogas, devido a espira basal da cóclea ser primeiramente afetada pelas drogas.
Quanto à variabilidade do teste, quando o comprimento da onda do tom se aproxima do comprimento do meato acústico externo, favorece a criação de ondas estacionárias, variando assim o nível de pressão sonora ao longo do meato acústico externo. O padrão das ondas estacionárias depende das dimensões da orelha externa, da impedância da orelha média e das características da fonte sonora.
Uma leve mudança na colocação dos fones também pode variar a pressão sonora sobre a membrana timpânica. Devido às variabilidades nos testes, os autores sugeriram que os fones devem ser calibrados para cada indivíduo, a cada sessão, e pode ser realizada através do posicionamento de um microfone sonda no meato acústico externo, permitindo a mensuração da pressão sonora próxima à membrana timpânica.
Devido à ausência de normas oficiais para a calibração dos equipamentos de alta freqüência, os limiares devem ser comparados com curvas de referência relacionadas com a idade de indivíduos com audição normal sem passado otológico. PEDALINI et al. (2) pesquisaram a média dos limiares tonais na AAF em indivíduos normais de 4 a 60 anos, com o objetivo de determinar limiares tonais médios para as altas freqüências. As freqüências testadas foram 10, 12.5, 14 e 16 kHz.
Para a faixa etária entre 30 a 40 anos foram pesquisados 32 indivíduos, sendo 12 do sexo masculino e 20 do feminino, num total de 59 orelhas e idade média de 36 anos.
Houve perda auditiva apenas na freqüência de 16 kHz (os autores consideraram 25 dBNA como limite de normalidade) e não houve diferença significativa interaural e entre sexos. Foi observado que o envelhecimento parece ter efeito crítico sobre os limiares tonais em 16 kHz e que os limiares de normalidade adotados na audiometria tonal convencional não podem ser os mesmos da audiometria de alta freqüência.
Nos grupos de 20-29 e 40- 49 anos, encontraram diferença significativa entre os sexos (melhor no feminino) e relataram que não existe um consenso na literatura a esse respeito, mas é sabido que as mulheres possuem audição mais acurada para médias e altas freqüências, talvez por efeito hormonal sobre a circulação da estria vascular.
Os autores ressaltaram que os prováveis fatores da escassez de estudos envolvendo a percepção sonora nas altas freqüências são: falta de equipamento adequado para a avaliação auditiva nas altas freqüências; ausência de padronização em relação à normalidade e a falta de conhecimento quanto ao uso dessa avaliação na prática clínica. Acrescentaram que, além da característica fisiológica do envelhecimento, outras modificações histológicas em orelhas expostas a ruídos ou a drogas ototóxicas ocorreram primeiramente no giro basal da cóclea, o que justificaria um interesse especial pela audiometria de altas freqüências, devido à informação precoce obtida com o exame. ZEIGELBOIM et al. (10) avaliaram a importância da AAF no monitoramento de pacientes renais crônicos em tratamento conservador.
A pesquisa foi realizada em indivíduos entre 30 e 59 anos de idade com audição normal, sem história otológica e em tratamento conservador no período de um ano. De acordo com os autores, a ototoxidade é um efeito colateral devido a utilização de determinadas subst âncias medicamentosas e os efeitos podem apresentar manifestações cocleovestibulares.
O estudo confirmou que os pacientes apresentaram resultados auditivos piores que os do grupo controle, que a sensibilidade auditiva nas altas freqüências diminuiu com o avanço da idade e o aumento da freqüência e que os pacientes apresentaram piora na avaliação intra-individual no período de um ano. Entres as possíveis explicações pela perda auditiva, destacaram o tempo da doença renal, uso de medicamentos ototóxicos, alteração vascular, nível elevado de uréia e/ou creatinina séricas, exposição a ruídos, nível elevado de potássio, idade e até mesmo uma causa obscura.
Conclu- íram que a AAF é importante para a detecção precoce e no monitoramento da perda auditiva, não só em pacientes renais crônicos, como em pacientes com manifestação otoneurológica. Devido à ausência de padrões de normalidade para a AAF e à importância desse exame para a detecção precoce e monitoramento da audição, o objetivo do presente estudo foi traçar um perfil audiológico nas altas freqüências em indivíduos de 30 a 40 anos com audição normal, em relação às variáveis lado e sexo.
CASUÍSTICA E MÉTODOS
O presente trabalho compreendeu 66 indivíduos, 44 do sexo feminino e 22 do sexo masculino, voluntários, moradores da cidade de Curitiba / PR, na faixa etária de 30 a 40 anos de idade. Após autorização do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Tuiuti do Paraná, os indivíduos foram avaliados no Laboratório de Pesquisas Fonoaudiológicas dessa institui- ção de ensino e submetidos aos seguintes protocolos:
Questionário
Os pacientes foram interrogados tendo como base a anamnese do Setor de Audiologia da Clínica de Fonoaudiologia da Universidade Tuiuti do Paraná.
Exame Audiológico
Inspeção Otológica:
Realizada com a finalidade de descartar a existência de alterações no meato acústico externo que pudessem interferir no exame.
Os indivíduos que apresentaram qualquer alteração foram encaminhados ao otorrinolaringologista do setor e excluídos da pesquisa.
Audiometria Tonal Convencional:
A audiometria tonal limiar convencional foi realizada com audiômetro Interacoustics AC 40, com fones TDH 39P e com limiares em dBNA.
A seguir, pesquisou-se a determina ção do limiar de fala e do índice percentual de reconhecimento de fala (IPRF), em cabina acusticamente tratada para impedir a interferência de ruídos estranhos ao teste. Os limites de normalidade adotados foram: limiares tonais aéreos menor ou igual a 20 dB NA na audiometria tonal limiar; limiar de fala compatível com a audiometria tonal e acerto maior ou igual a 92% no (IPRF).
Audiometria de Altas Freqüências:
Foram pesquisados os limiares de audibilidade nas freqüências de 9.000, 10.000, 11.200, 12.500, 14.000 e 16.000 Hz, com audiômetro Interacoustics AC 40, com fones KOOS HV/PRO digitais e com limiares em dBNPS.
Medidas de Imitância Acústica:
As medidas de imitância acústica (timpanometria e pesquisa do reflexo acústico) foram realizadas com o imitanciômetro AZ-26 Interacoustics. Para a interpretação dos resultados referentes à curva timpanométrica utilizouse a classificação proposta por JERGER (11). Os reflexos acústicos do músculo estapédio foram considerados presentes ou ausentes na intensidade máxima pesquisada pelo equipamento.
Análise Estatística
Para a análise dos resultados foram aplicados os seguintes testes estatísticos:
1. Teste de Wilcoxon, com a finalidade de comparar limiares de audibilidade entre as orelhas.
2. Teste de Mann-Whitney, para comparar limiares de audibilidade entre os sexos.
3. Limites de Normalidade, teste para estabelecer limite inferior e limite superior de audibilidade para as altas freqüências.
Em todos os testes fixou-se em 0,05 ou 5% o nível de rejeição na hipótese de nulidade, assinalando-se com um asterisco os valores significantes.
RESULTADOS
Teste de Wilcoxon
As comparações dos limiares de audibilidade (dBNPS) nas orelhas direita e esquerda, em ambos os sexos, são apresentadas nas Tabelas 1 e 2. De acordo com o teste de Wilcoxon, não houve diferença significativa segundo a variável lado, no sexo masculino. De acordo com o teste de Wilcoxon, houve diferen- ça significativa segundo a variável lado no sexo feminino, somente na freqüência de 11.200 Hz. Observou-se resultado pior à direita.
Teste de Mann-Whitney
As Tabelas 3 e 4 mostram a comparação dos limiares de audibilidade entre as orelhas, em ambos os sexos. De acordo com o teste de Mann-Whitney, houve diferença significativa entre os sexos para a orelha direita, nas freqüências de 10.000 e 16.000 Hz. Entretanto, não houve diferença significativa entre os sexos para a orelha esquerda.
Limites de Normalidade
Diferentemente da audiometria convencional, não foi estabelecido um limite de normalidade para a audiometria de altas freqüências, até a presente data. As Tabelas 5 e 6, juntamente com os Gráficos 1 e 2 mostram os limites de normalidade de audibilidade para as orelhas direita e esquerda, respectivamente, para o sexo feminino. As orelhas direita e esquerda no sexo feminino apresentam-se separadamente devido a diferença significativa de limiar de audibilidade na freqüência de 11.200 Hz, segundo o teste de Wilcoxon. A Tabela 7 e o Gráfico 3 mostram os limites de normalidade de audibilidade para o sexo masculino. Como o teste de Wilcoxon não mostrou diferença significativa entre orelhas para o sexo masculino e, para fazer a estatística para limite inferior e limite superior é necessário n ³ 30, optamos por agrupar o resultado das duas orelhas, de modo que a amostra para o sexo masculino tornou-se n = 44.
DISCUSSÃO
Conforme o aumento da freqüência, foi observado um declínio da audibilidade em ambas as orelhas e sexos (Tabelas 1 e 2), concordando com os estudos de NORTHERN et al. (5), que relataram que somente 66% do grupo de 30 a 39 anos responderam para as freqüências acima de 14.000 Hz. PEDALINI et al. (2), VASSALLO et al. (3), STELMACHOWICZ et al. (9), ZEIGELBOIM et al. (10) também observaram na mesma faixa etária estudada um declínio da sensibilidade auditiva nas freqüências de 13.000 Hz, 14.000 Hz e 16.000 Hz. Observamos em nosso estudo a dificuldade de alguns indivíduos em perceber o estímulo sonoro, principalmente na freqüência de 16.000 Hz, os quais referiram uma sensação de corrente elétrica sendo descarregada em suas orelhas.
O mesmo fato foi observado por OSTERHAMMEL (6), que relatou em sua pesquisa que, para alguns indiví- duos, o estímulo sonoro das freqüências mais altas foi mais uma questão de "sensação" do que "audição". Esse fato deve-se, provavelmente, às freqüências acima de 16.000 Hz não serem apropriadas para diferenciar alterações da sensibilidade auditiva com relação à idade, visto que o número de indivíduos aptos a responderem nestas freq üências é baixo. Não houve diferenças significativas entre orelhas para o sexo masculino (Tabela 3). Este resultado foi concordante com o estudo de PEDALINI et al. (2) e ZEIGELBOIM et al. (10). O mesmo não se pode dizer para o sexo feminino, pois houve diferença significativa para a freq üência de 11.200 Hz (Tabela 4), sendo que a orelha esquerda obteve melhor resposta. Tal resultado discorda de ZEIGELBOIM et al. (10), que não encontraram diferença segundo a variável lado em ambos os sexos.
Assim, neste estudo, a variável sexo foi separada por orelha. Devido ao fato dos indivíduos testados não terem referido preferência de orelha, iniciaram-se os testes sempre pela orelha direita. Acredita-se que a orelha esquerda tenha apresentado melhores resultados por estar preparada para perceber o estímulo sonoro. Caso o início da orelha a ser testada tivesse sido randomizado (E ou D), isso provavelmente não teria acontecido se fosse 'aprendizagem de resposta'.
Caso acontecesse, realmente se poderia pensar que a OE é melhor. Ao comparar-se o limiar de audibilidade em cada orelha segundo a variável sexo (Tabelas 5 e 6), encontrouse diferença significativa somente na orelha direita nas freqüências de 10.000 Hz e 16.000 Hz, sendo o limiar melhor para o sexo masculino. Tal resultado discorda do de Pedalini et al. (2) que não encontraram diferença entre os sexos na faixa etária de 30 a 39 anos, de VASSALLO et al. (3) e STELMACHOWICZ et al. (9), que encontraram média dos limiares melhor no sexo feminino. Os últimos autores referiram que a média da diferença de limiares em relação à variável sexo foi de 4,4 dB. Acredita-se que a média nas altas freqüências para o sexo masculino tenha sido melhor devido à classe social, pois a maioria era de classe média e não eram funcionários ou alunos da Universidade Tuiuti do Paraná.
Já no sexo feminino, além de professoras e secretárias, participaram da pesquisa cozinheiras e faxineiras da universidade. A audiometria de altas freqüências, como se pôde observar em nossa pesquisa é um importante recurso para detecção precoce da perda auditiva, seja em casos de presbiacusia ou de ruído (3, 6) e para a monitoração da audição durante a administração de medicamentos ototóxicos (2,3,5,8,9). Apresentamos a seguir, os limites superiores de normalidade para o sexo feminino na orelha direita (Tabela 5 e Gráfico 2): 30 dBNPS em 8.000 Hz; 35 em 9.000 Hz; 45 em 10.000 Hz; 50 em 11.200 Hz; 55 em 12.500 Hz; 75 em 14.000 Hz e 95 em 16.000 Hz. Na orelha esquerda (Tabela 6 e Gráfico 3) foram: 35 em 8.000 Hz; 35 em 9.000 Hz; 40 em 10.000 Hz; 45 em 11.200 Hz; 50 em 12.500 Hz; 75 em 14.000 Hz e 95 em 16.000 Hz. Para o sexo masculino como não houve diferença entre as orelhas, seguem abaixo os limites superiores de normalidade, tanto para a orelha direita quanto para a orelha esquerda (Tabela 7 e Gráfico 4), 30 em 8.000 Hz; 30 em 9.000 Hz; 35 em 10.000 Hz; 42,5 em 11.200 Hz; 45 em 12.500 Hz; 60 em 14.000 Hz e 85 em 16.000 Hz. Apesar da importância de serem estabelecidos padrões de normalidade por faixa etária e sexo, NORTHERN et al. (5) recomendaram, provisoriamente, que os limites obtidos por ZISLIS e FLETCHER (1966) em meninas da quinta série ginasial ao terceiro ano do segundo grau, sejam utilizados como referência, por ser a melhor representa- ção da audição para as freqüências de 8.000 a 18.000 Hz, até que um padrão oficial seja recomendado. Concordante com tal recomendação, pois estes não designaram sexo, foi o estudo de OLIVA et al. (7), que relataram que o limite auditivo para as freqüências agudas somente é alcançado por sujeitos jovens, geralmente com menos de 20 anos de idade, e o estudo de STELMACHOWICZ et al. (9), no qual sugeriram que os limiares obtidos no grupo de 10 a 19 anos sejam utilizados como referência de normalidade para a audiometria de altas freqüências. Apesar da recomendação de que a audição de sujeitos jovens seja utilizada como padrão de referência de normalidade, verificou-se nesta pesquisa que este não é normal para indivíduos de 30 a 40 anos.
CONCLUSÕES
A partir da análise dos resultados obtidos no presente estudo, com relação ao comportamento auditivo nas freqüências de 8.000 a 16.000 Hz, em indivíduos de 30 a 40 anos com audição normal, conclui-se que: a) não houve diferença significante dos limiares de audibilidade com relação à variável lado no sexo masculino em qualquer freqüência testada; b) houve diferença significante em relação à variável lado no sexo feminino somente na freqüência de 11.200 Hz, sendo que a orelha direita apresentou pior resultado; c) houve diferença significante em relação à variável sexo nas freqüências de 10.000 e 16.000 Hz, somente na orelha direita, com melhor resultado para o sexo masculino; d) os limites superiores de normalidade da audiometria de altas freqüências em indivíduos de 30 a 40 anos de idade do sexo feminino para a orelha direita foram: 30 dBNPS em 8.000 Hz; 35 em 9.000 Hz; 45 em 10.000 Hz; 50 em 11.200 Hz; 55 em 12.500 Hz; 75 em 14.000 Hz e 95 em 16.000 Hz; e) os limites superiores de normalidade da audiometria de altas freqüências em indivíduos de 30 a 40 anos de idade do sexo feminino para a orelha esquerda foram: 35 em 8.000 Hz; 35 em 9.000 Hz; 40 em 10.000 Hz; 45 em 11.200 Hz; 50 em 12.500 Hz; 75 em 14.000 Hz e 95 em 16.000 Hz; f) os limites superiores de normalidade da audiometria de altas freqüências em indivíduos de 30 a 40 anos de idade do sexo masculino foram: 30 em 8000 Hz; 30 em 9.000 Hz; 35 em 10.000 Hz; 42,5 em 11.200 Hz; 45 em 12.500 Hz; 60 em 14.000 Hz e 85 em 16.000 Hz.
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* Fonoaudióloga, Mestre em Distúrbios da Comunicação pela Universidade Tuiuti do Paraná e Especialista em Audiologia pela FUNCRAF / Centrinho . USP, Bauru, SP.
** Fonoaudióloga, Doutora em Ciências dos Distúrbios da Comunicação Humana pela UNIFESP/EPM e Coordenadora do Programa de Mestrado em Distúrbios da Comunicação
da Universidade Tuiuti do Paraná.
*** Doutor em Ciências Geodésicas pela Universidade Federal do Paraná e Professor do Programa de Pós-Graduação, nível Mestrado, em Distúrbios da Comunicação da Universidade Tuiuti do Paraná.
Instituição: Laboratório de Pesquisas Fonoaudiológicas da Universidade Tuiuti do Paraná.
Endereço para correspondência: Tatiana Martinho . Rua Amazonas, 677 apto 44 . Curitiba / PR . CEP: 80610-030 . Tel: (41) 3029-8740 / 322-6672 .
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Artigo recebido em 15 de agosto de 2004. Artigo aceito com modificações em 10 de novembro de 2004.