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Ano: 2004  Vol. 8   Num. 1  - Jan/Mar Print:
Original Article
Principais Sintomas Otorrinolaringológicos em Escolares
Main Otolaryngological Symptoms Among School Children
Author(s):
Simone Adad Araújo*, Joao Ribeiro Moura**, Leandro Azevedo Camargo***.
Palavras-chave:
otorrinolaringologia, sintomas, escolares.
Resumo:

Introdução: Queixas otorrinolaringológicas são em geral pouco pesquisadas na faixa etária escolar, justamente quando é necessário maior concentração e dedicação ao bom aprendizado. Portanto, é importante reconhecer quais são as queixas rinológicas, otológicas, estomatológicas e laringológicas mais freq üentes dos estudantes. Objetivos: Identificar e verificar a freqüência dos sintomas otorrinolaringológicos mais referidos por escolares. Casuística e Métodos: Pesquisa realizada no período de setembro de 1998 a abril de 1999 com 293 escolares de faixa etária de 7 a 14 anos, avaliados por médicos otorrinolaringologistas através de questionário padronizado e exame clínico otorrinolaringológico, no Ambulatório de Otorrinolaringologia do Hospital das Clí- nicas da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás. Resultados: As queixas mais freqüentes foram: cefaléia (64%), halitose (32%), obstrução nasal (28%), respiração oral (28%), roncos (27%), tonturas (26%), otalgia (14%), tosse (13%), rouquidão (9%), hipoacusia (5%) e zumbido (2%). Conclusão: A avaliação otorrinolaringológica dos estudantes nesta faixa etária é importante pela alta freqüência de queixas que podem reduzir o bom rendimento escolar.

INTRODUÇÃO

Diversas doenças otorrinolaringológicas com seus sinais e sintomas acometem crianças em idade escolar, podendo trazer conseqüências como dificuldade na aquisi- ção de habilidades escolares e desenvolvimento da linguagem. A evasão ou a repetência escolar podem estar relacionadas com doenças não identificadas e não tratadas precocemente.

Merece consideração ainda, sobretudo em nosso meio, o fator sócio-econômico e cultural precários. Os sintomas otorrinolaringológicos são pouco identificados e pesquisados na faixa etária escolar, justamente quando é necessária a maior concentração e dedicação ao bom aprendizado, sendo importante reconhecer quais são as queixas rinológicas, otológicas, faringológicas e laringológicas mais freqüentes dos estudantes, orientando assim o diagnóstico e tratamento precoce das doenças otorrinolaringológicas. A audição normal é fundamental para o desenvolvimento da linguagem, que por sua vez favorece a interação social e a aquisição de conhecimentos. Portanto, o diagnóstico da deficiência auditiva deve ser feito o mais precoce possível (1). GONZALVO estudou 776 crianças observando, dentre os problemas mais freqüentes, as queixas respiratórias e auditivas.

De acordo com o autor, o estado de saúde destes menores é comprometido devido a características sociais, como estado sanitário precário e baixo nível sócio - econômico familiar (2). Perda auditiva condutiva devido a doenças da orelha média ocorre em grande proporção na infância, sendo que estas infecções podem regredir espontaneamente ou se cronificar necessitando de tratamento específico, tornando ponto importante o seu diagnóstico (3). Segundo LUNDY et al, a identificação precoce de disfun ção vocal em estudantes é necessária para a prevenção da ocorrência de doenças crônicas da laringe (4). Na população urbana ainda é importante lembrar que a poluição do ar contribui para o aumento da prevalência de doenças respiratórias como rinites, sinusites e infecções do trato respiratório superior (5). Segundo SIMÕES e MACIEL-GUERRA, a predominância acentuada dos casos de deficiência auditiva de etiologia ambiental reflete as condições médicos-sanitárias da popula ção, de cuja melhoria depende a profilaxia da mesma em nosso meio (6). A presente pesquisa objetiva identificar e verificar a freqüência das queixas otorrinolaringológicas mais referidas por escolares.

Como os sintomas nem sempre são detectados pelos pais devido ao desconhecimento das doenças otorrinolaringológicas ou por não valorizar as queixas da criança, este estudo com escolares foi proposto para conhecer melhor seu estado de saúde.

CASUÍSTICA E MÉTODOS

Após autorização pela Comissão de Ética em Pesquisa, este estudo foi realizado no Ambulatório de Otorrinolaringologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás, no período de setembro de 1998 a abril de 1999. Foram avaliados 293 escolares de baixa renda e de faixa etária de 7 a 14 anos que compareceram ao Hospital das Clínicas para avaliação por médicos otorrinolaringologistas através de roteiro de entrevista e exame clínico otorrinolaringológico. O roteiro de entrevista questionou sobre os principais sintomas otológicos, rinológicos, estomatológicos e laringológicos, incluindo: hipoacusia, zumbido, otalgia, otorréia, sensação de plenitude auricular; cefaléia, obstru- ção nasal, roncos, respiração oral, prurido nasal, espirros, rinorréia, tosse; halitose, irritação em orofaringe, disfagia, odinofagia; rouquidão, alterações na voz e outros. O exame clínico otorrinolaringológico incluiu: anamnese, inspeção, palpação, orofaringoscopia, rinoscopia, otoscopia e laringoscopia quando necessário.

Foram realizados exames complementares quando necessários como raios x, audiometrias e videolaringoscopias.

RESULTADOS

A Tabela 1 dispõe a freqüência de todas as queixas otorrinolaringológicas encontradas nos 293 escolares avaliados. As queixas otológicas mais freqüentes foram: tonturas (26%), otalgia (14%), hipoacusia (5%) e zumbido (2%). As queixas rinológicas mais freqüente foram: cefaléia (64%), obstrução nasal (28%), roncos (27%) e tosse (13). As queixas estomatológicas mais freqüentes foram: halitose (32%) e respiração oral (8%). Por fim, a queixa laringológica mais freqüente foi a rouquidão (9%).



DISCUSSÃO

Sinais e sintomas otorrinolaringológicos foram identificados com grande freqüência tornando possível o diagnóstico e tratamento de doenças que por vezes passariam desapercebidas e sem a devida atenção. O otorrinolaringologia se depara diariamente com queixas de sintomas e doenças nesta faixa etária escolar. Entretanto, devido ao acesso difícil ao especialista no sistema de saúde pública, as camadas de baixa renda nem sempre conseguem a assistência necessária. A dificuldade na aquisição de habilidades escolares e no desenvolvimento da linguagem, comuns nesta idade, pode estar relacionada a grande quantidade de queixas, principalmente as otológicas e rinológicas observadas neste trabalho. Os sintomas otorrinolaringológicos são em geral pouco identificados na faixa etária escolar sendo, portanto, necessário uma maior atenção ao nível preventivo de saúde pública, na tentativa de reduzir o número de seqüelas nestas crianças.

Em nosso meio, o fator sócio-econômico e cultural precário agrava e aumenta o número de doenças otorrinolaringológicas, como observado nos estudos de GONZALVO em 1999 (2). A perda auditiva é o sintoma mais citado pelos autores (1,3,6).

Entretanto, nesta pesquisa, a principal queixa otológica foi a tontura, o que discorda da literatura. A seguir, as queixas em menor proporção foram de otalgia, hipoacusia e zumbido, levando ao questionamento sobre a necessidade de rever o que realmente pode estar atrapalhando o desenvolvimento desses estudantes. A presença maciça de queixas rinológicas nesta população urbana pode estar relacionada com a poluição do ar que contribui para o aumento da prevalência de doenças respiratórias com rinites e sinusites como já referido por SIH (5). Embora as queixas laringológicas não tenham sido muito freqüentes, alguns autores referem que mesmo com uma quantidade modesta de queixas de rouquidão, é necessário o acesso ao especialista para avaliação especí- fica, evitando disfunções vocais graves como as disfonias e obstrução respiratória superior (4). Os transtornos otorrinolaringológicos apresentados por estes escolares podem causar dificuldades em vários níveis, principalmente no escolar. Lembramos que a falta de diagnóstico e tratamento de doenças otorrinolaringológicas pode produzir seqüelas tipo surdez ou ainda o seu agravamento, podendo levar até a conseqüências fatais como nas complicações de otites e sinusites.

Salientamos que as queixas mais freqüentes como cefaléia, obstrução nasal, otalgia e tonturas podem reduzir o bom rendimento escolar. O maior conhecimento da realidade dos estudantes brasileiros é necessário e este levantamento é somente um passo inicial, chamando a atenção para a necessidade de uma atuação preventiva em crianças e adolescentes neste país. CONCLUSÃO Concluímos que a avaliação médica dos estudantes de baixa renda e de faixa etária de 7 a 14 anos por otorrinolaringologistas é importante pela alta freqüência dos sintomas.

Desta forma, o diagnóstico e o tratamento das doenças podem melhorar a qualidade de vida e a produtividade escolar dos estudantes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Abe LMO, Stamm DG Detecção precoce da deficiência auditiva. Ars Curandi . A Revista do Clínico Geral, 37-43, 1991.
2. Gonzalvo GO. Características sociales y estado de salud de los menores que ingresan en centros de acogida. Anal Españoles Pediatr, 50: 151-5, 1999.
3. Grimes CT. Audiologic evaluation in infancy and childhood. Pediatr Ann, 14: 211-9, 1985.
4. Lundy DS, Casiano RR, Sullivan PA, Roy S, Xue JW, Evans J. Incidence of abnormal laryngeal findings in asymptomatic singing students. Otolaryngol Head Neck Surg, 121: 69-77,1999.
5. Sih T. Correlation between respiratory alterations and respiratory diseases due to urban pollution. Int J Pediatr Otorhinolaryngol, 49: S261-67, 1999.
6. Simões AM, Maciel-Guerra AT. A surdez evitável: predominância de fatores ambientais na etiologia da surdez neurossensorial profunda. J Pediatr, 68: 254-7, 1992.

* Doutora em Otorrinolaringologia pela Universidade de São Paulo, Colaboradora do Serviço de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal
de Goiás.
** Mestre em Otorrinolaringologia pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.
*** Preceptor da Residência Médica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás e Mestrando em Otorrinolaringologia pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.

Apresentado no 35º Congresso Brasileiro de Otorrinolaringologia e 9º Congresso Iberolatinoamericano de Otorrinolaringologia, em Natal / RN, 2000.
Instituição: Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás.
Endereço para correspondência: Dra. Simone Adad Araújo . Primeira Avenida, Sem Número, Setor Universitário . Goiânia / GO . CEP 74605-050 . Faculdade de Medicina
da Universidade Federal de Goiás . Telefax: (62) 2021800 - Ramal 1187 . E-mail: araujosa@yahoo.com.br
Artigo recebido em 27 de julho de 2002. Artigo aceito com modificações em 18 de abril de 2003.
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