INTRODUÇÃOO desenvolvimento tecnológico no Brasil desencadeou nas grandes metrópoles um aumento dos índices de poluição, especialmente à causada pelo ruído. O ruído de tráfego é considerado um dos principais responsáveis pela poluição sonora, sendo muito discutido em publicações científicas, como também, nos meios de comunicação populares (jornais, revistas e televisão). Comprovadamente, a cidade de São Paulo apresenta características acústicas desfavoráveis, decorrentes da intensa urbanização.
A Perda Auditiva Induzida pelo Ruído (PAIR) pode causar uma diminuição quantitativa da capacidade auditiva, assim como, uma modificação qualitativa, uma vez que o som é percebido distorcidamente - denominado fenômeno do recrutamento. Ele faz com que a área dinâmica da audição seja reduzida. Assim, o mesmo sujeito que não escuta estímulos pouco intensos pode chegar a apresentar uma sensibilidade exagerada para sons fortes, fazendo com que a percepção desses estímulos seja muito distorcida e incômoda (AZEVEDO et al., 1993).
As alterações ou efeitos que o ruído acarreta à audição, todavia à saúde em geral, são influenciados pelo NPS, assim como, pelo tipo de ruído, pela freqüência, pelo tempo total de exposição e ainda pela suscetibilidade individual. Desse modo, o ruído pode afetar de forma diferente os sujeitos expostos pelo mesmo período de tempo (LINDEN, 1996).
MARQUES (1998) salientou que uma deficiência visual ou auditiva nos motoristas profissionais poderá acarretar danos não somente à sua integridade física, mas também à das pessoas que estão sendo conduzidas pelo mesmo, além do risco para os pedestres que circulam pelas ruas. Distúrbios na saúde e na Qualidade de vida também podem influenciar no seu desempenho profissional. Além dos sintomas auditivos, uma variedade de alterações pode ser determinada pelo excesso de ruído ocupacional, tais como: transtornos cardiovasculares, como Hipertensão Arterial Sistêmica (CORRÊA FILHO et al., 2002; SOUZA e SILVA, 2005), alterações músculo-esqueléticas devido à exposição à vibração (BALBINOT e TAMAGNA, 2002; SILVA e MENDES, 2005), transtornos digestivos, comportamentais, neurológicos, vestibulares, alterações de sono e na comunicação. NERI, SOARES e SOARES (2005) apontaram que a média de dias perdidos de trabalho devido a algum problema de saúde nos motoristas (de ônibus) foi de 6,28 dias, o que representou uma perda salarial de aproximadamente R$ 6,6 milhões nos Estados da BA, do RJ, de SP e de MG.
ROSSI (1999) investigou o perfil audiológico de motoristas de ambulância, os quais tornam-se fortes candidatos à obtenção de problemas de saúde proveniente da poluição sonora. Realizou audiometria em 36 motoristas de ambulância, com idades entre 33 e 62 anos, sendo 32 do sexo masculino e quatro do sexo feminino. Os resultados apontaram que 58,33% dos sujeitos pesquisados apresentaram algum tipo de alteração auditiva nos exames de audiometria e destes, 76,19% apresentaram curvas audiométricas sugestivas de PAIR.
De acordo com FIORINI (2000), o impacto ambiental pode ser considerado como uma das principais conseqüências do avanço técnico-científico que marca o final do segundo milênio. A busca incessante do desenvolvimento tecnológico representa não só a óbvia tendência ao progresso da humanidade, mas também, as modificações importantes na Qualidade de vida dos sujeitos. Desta forma, apesar dos diversos benefícios advindos do progresso, o impacto ambiental pode também gerar inúmeros comprometimentos na saúde do homem, portanto, merecem uma atenção especial por parte dos profissionais de saúde.
SANCHES (2003) referiu que as fontes de ruído urbano são diversas, decorrentes dos automóveis, ônibus, sirenes de polícia e ambulância, até aquelas relacionadas ao lazer. O ruído provoca importantes prejuízos na saúde física e mental dos sujeitos, portanto, a conscientização da população torna-se fundamental.
As queixas mais freqüentes apresentadas pelo sujeito com deficiência auditiva não são referentes à sua dificuldade para ouvir, mas à dificuldade de compreensão de fala, que traz conseqüências para a sua vida profissional, social e familiar. Esse tipo de queixa mostra o quanto a habilidade de reconhecimento auditivo é fundamental para o bem-estar emocional e social de qualquer sujeito. Ao classificarmos a audição somente pelos valores obtidos na audiometria tonal, podemos presumir o grau de dificuldade que o sujeito apresentará, mas não podemos garantir esta expectativa. Ouvir não é só quantidade, mas fundamentalmente, qualidade (MOMENSOHN-SANTOS e RUSSO, 2005).
Verificamos, nesta breve revisão de literatura, que há uma escassez de trabalhos científicos sobre os efeitos do ruído na audição de motoristas de ambulância. Ainda não foi descrito um perfil audiológico desta categoria profissional. Surgem, então, as hipóteses deste trabalho:
1. É esperado que estes profissionais tenham limiares auditivos dentro do padrão de normalidade ou que tenham perdas auditivas neurossensoriais em freqüências altas ou em média/altas, características de PAIR.
2. Se encontrarmos perdas auditivas, a orelha mais afetada será a esquerda, por estar mais próxima à janela da ambulância e, portanto, diretamente exposta ao ruído ambiental.
OBJETIVOO trabalho visou a realização de um estudo descritivo do perfil audiológico de motoristas de ambulância, do ponto de vista audiométrico e de medidas de imitância acústica. O ruído urbano, potencializado pela sirene, é um importante fator exógeno na determinação do perfil em questão, podendo desencadear uma perda auditiva característica deste agente físico nestes motoristas.
CASUÍSTICA E MÉTODOEste estudo foi desenvolvido no Aprimoramento de "Saúde e Trabalho" do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP).
Analisamos os exames audiológicos de motoristas de ambulância de dois Hospitais Públicos de grande porte, situados na cidade de São Paulo, sendo eles: Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) e Instituto de Infectologia Emílio Ribas (ER).
Caracterização e convocação dos sujeitosEstudamos 28 indivíduos adultos, todos do sexo masculino, motoristas de ambulância. Estes pacientes foram solicitados a participar da pesquisa através de uma carta-convite, fornecida após a consulta realizada no Ambulatório de Otorrinolaringologia Ocupacional do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, bem como, no Serviço de Saúde Ocupacional do Instituto de Infectologia Emílio Ribas. Caso houvesse interesse por parte destes motoristas, os profissionais os encaminhavam para o agendamento no Serviço de Saúde Ocupacional do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (SSO-HCFMUSP), local da realização da pesquisa. Os critérios de seleção da amostra foram:
-Trabalho exclusivo como motorista de ambulância.
-Tempo mínimo de dois anos na atividade.
-Carga horária média diária de oito horas.
-Idade máxima limite de 63 anos
-Ausência de alterações de orelha média e de perdas auditivas condutivas
-Ausência de perdas auditivas neurossensoriais, unilaterais, de grau severo a profundo em todas as freqüências.
Considerações ÉticasEste estudo foi apresentado e aprovado pela Comissão de Pesquisa do Centro de Aprimoramento de Pessoal (CEAP) do Instituto Central do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IC-HCFMUSP).
Termo de Consentimento Livre e EsclarecidoHavendo a aprovação dos motoristas na participação da pesquisa científica, foi apresentado um termo de consentimento livre e esclarecido, sendo lido anteriormente ao atendimento. As assinaturas dos sujeitos que concordaram em participar do estudo foram requeridas. Uma cópia do termo de consentimento livre e esclarecido foi entregue ao motorista e uma outra igual foi arquivada e guardada pela fonoaudióloga responsável pela pesquisa. Explicamos que o atendimento seria oferecido independente de suas participações na pesquisa.
Procedimentos
AnamneseOs sujeitos foram submetidos a uma anamnese clínico-ocupacional, assim como, a uma anamnese específica para os motoristas de ambulância.
Inspeção Visual do Meato Acústico Externo e
Audiometria Tonal -Inspeção visual do Meato Acústico Externo (verificação de alguma impossibilidade para a realização do teste, como cerume parcial ou total no meato acústico externo). Para tanto, utilizamos o otoscópio Heine mini 2000. Caso houvesse alteração, encaminharíamos o sujeito ao médico Otorrinolaringologista do próprio SSO-HCFMUSP ou ao Ambulatório de Otorrinolarin¬gologia Ocupacional do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
-Audiometria tonal liminar com repouso auditivo de 14 horas para a sua realização, tanto por via aérea nas freqüências de 0.25 kHz, 0.5 kHz, 1 kHz, 2 kHz, 3 kHz, 4 kHz, 6 kHz e 8 kHz, e por via óssea. Logoaudiometria, com o emprego do limiar de reconhecimento de fala (LRF) e índice de reconhecimento de fala (IRF). Para a realização destes exames, foi usado o audiômetro da marca Siemens modelo SD 25, calibrado anualmente, tendo sido obedecidos os critérios propostos por Momensohn -Santos e Russo (2005).
-Medidas de imitância acústica (timpanometria e medidas dos limiares dos reflexos estapedianos ipsilaterais e contralaterais), realizadas com o imitanciômetro AZ 7 Interacoustics, também calibrado anualmente.
Critérios de análise dos resultadosUtilizamos o critério proposto por COSTA (1988) para classificar os limiares audiométricos dos motoristas de ambulância.
De acordo com o Quadro I, no grupo 0 encontramos os audiogramas cujas perdas não ultrapassam 25 dB em todas as freqüências ou em suas médias. No grupo 5, permanecem os traçados correspondentes a perdas não ocupacionais. As Perdas Auditivas Induzidas por Ruído, que apresentam quedas características entre 3 e 6 kHz, são classificadas no grupo de 1 a 4. Ocorre então, duas médias aritméticas das perdas auditivas em decibels. A primeira média, em 0,5, 1 e 2 kHz, traduz a qualidade da discriminação auditiva em cabina acústica. A segunda, em 3, 4 e 6 kHz, caracteriza propriamente a PAIR. O comprometimento em 3 kHz e depois em 2 kHz traduz a progressão das lesões em termos de inteligibilidade em condições cotidianas. Na classificação dos grupos 3, 4 e 5, é recomendado o encaminhamento desses trabalhadores para avaliação otorrinolaringológica. As duas médias, por sua vez, são importantes para quantificar os desvios audiométricos que podem ocorrer de ano para ano.
Realizamos também a Pesquisa do Recrutamento Objetivo de Metz. A presença do recrutamento ocorre quando a diferença de intensidade entre os limiares tonais e os limiares do reflexo estapediano apresenta-se reduzida, ou seja, inferior a 60 dB. Em sujeitos com a audição dentro dos padrões de normalidade a diferença entre ambos é, freqüentemente, de 70 a 90 dB (MOMENSOHN-SANTOS e RUSSO, 2005).
Análise EstatísticaForam utilizados testes estatísticos (Teste t de Student, Teste de Mann-Whitney, Testes dos Postos Sinalizados de Wilcoxon e Análise de Correlação de Spearman) com nível de significância de 5% (p<0,050), conforme sugerido para estudos biológicos.
Na análise de Correlação de Spearman, o sinal positivo significou que quanto maior for a ocorrência da primeira variável estudada, tanto maior será a segunda. Contudo, o sinal negativo representou o conceito inverso: quanto menor for a ocorrência da primeira variável estudada, tanto maior será a segunda.
RESULTADOSComparando os grupos do Instituto de Infectologia Emílio Ribas (ER) e Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) (Teste t de Student), observamos que a faixa etária foi semelhante para os dois grupos (p = 0,126).
Na Tabela 2, observamos que houve uma diferença estatisticamente significante somente para a categoria "uso mensal da ambulância" entre os grupos do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, com p = 0,003, mostrando que os motoristas do HCFMUSP utilizam com maior freqüência a ambulância do que os do ER. Para as demais categorias não houve diferença estatisticamente significante entre as respostas dos motoristas dos dois hospitais estudados.
Todos os indivíduos (n = 28) referiram dirigir a ambulância com a janela aberta (100%), quando questionados na anamnese.
Através do Teste Mann-Whitney, observamos que não houve uma diferença estatisticamente significante quando comparada a classificação de COSTA na orelha direita (OD) (p = 0,815) e COSTA na orelha esquerda (OE) (p = 0,979) entre ER e HCFMUSP, podendo os sujeitos destes hospitais serem agrupados em uma única categoria - grupo motoristas de ambulância (Tabela 2). Com isso, na Tabela 3, notamos que não houve uma diferença estatisticamente significante (p = 1,000) entre as classificações das perdas auditivas da orelha direita com as classificações das perdas auditivas da orelha esquerda, quando agrupadas as orelhas dos motoristas de ambos os hospitais.
DISCUSSÃOO ruído do tráfego é um dos grandes causadores do aumento dos Níveis de Pressão Sonora (NPS) nos grandes centros urbanos. Muitas pessoas relacionam o ruído ao progresso, ao consumismo, ao hábito, à moda e à diversão (MARQUES, 1998; FIORINI, 2000). Contudo, ele pode provocar uma sensação subjetiva desagradável nos sujeitos, principalmente quando apresentado em níveis intensos e inesperados. Estes efeitos adversos que o ruído desencadeia no homem, tanto orgânicos quanto psico-sociais, têm sido estudados por diversos profissionais ligados à área da saúde, na qual a Fonoaudiologia está incluída.
Na Tabela 1, referente às respostas da anamnese, percebemos um aspecto subjetivo principalmente nas questões quanto à freqüência em que ligavam a sirene (sempre, às vezes ou nunca) e quanto o ruído desta os incomodavam (muito, mais ou menos ou pouco). Os motoristas relataram somente ligar a sirene quando o médico solicitava ou para pedirem passagem no trânsito (por isso, o grande número de respostas 'às vezes' - N = 24). Relataram sentir o desespero dos outros motoristas presentes no tráfego quando ligavam a sirene, por isso, somente a acionam em extrema necessidade. Dos 18 motoristas que referiram sentir incômodo com o ruído da sirene, 11 classificaram-no como muito incômodo, sendo que destes, oito pertenciam ao ER. Mesmo havendo uma diferença estatisticamente significante para a categoria 'uso mensal da ambulância' (p = 0,003), na qual os motoristas do HCFMUSP utilizam com maior freqüência a ambulância do que os do ER, isto não significou que os motoristas do HCFMUSP sintam maior incômodo com o ruído da sirene (N = 3).Quanto mais o motorista (independente do hospital) utiliza a ambulância, maior referência a muito incômodo com o ruído da sirene ele sentirá (Grau de incômodo X Uso mensal da ambulância, p = 0,042 - Tabela 4). O relato das experiências destes trabalhadores salientou terem consciência de sua responsabilidade em salvar ou ajudar vidas humanas.
Analisamos as orelhas direita e esquerda do grupo de motoristas de ambulância de ambos os hospitais (HCFMUSP e ER). Observamos que 50% dos indivíduos apresentaram COSTA 1 a 5 nas orelhas direita e esquerda (N = 14, respectivamente), porcentagem semelhante a obtida por ROSSI (1999). A Tabela 3 demonstrou que não houve uma diferença estatisticamente significante (p = 1,000), o que nos comprovou não ocorrer um predomínio de perdas auditivas na orelha esquerda sobre a orelha direita.
Do total de 28 motoristas avaliados, notamos que 14 sujeitos (50%) com perda auditiva segundo COSTA (1988) apresentaram tempo de profissão superior a 10 anos. Porém, dos 14 sujeitos (50%) do grupo sem características de PAIR (COSTA 0 e 5) que apresentaram tempo de profissão variando de 1 ano a acima de 10 anos de profissão, sua maioria (N = 11) eram motoristas a pelo menos 10 anos . Um mesmo tipo de ruído (o urbano, no caso) poderia afetar de formas diferentes os sujeitos que estejam expostos a ele pelo mesmo período de tempo, desencadeando ou não uma perda auditiva (LINDEN, 1996).
Verificamos que 21 sujeitos (75%) não utilizavam o ar condicionado ou circulador de ar durante seu trabalho. Destes, 10 sujeitos tinham perda auditiva de grau 1 a 4 segundo COSTA (1988) e 11 sujeitos apresentavam COSTA 0 e 5. Dos sujeitos que relataram utilizar ar condicionado ou circulador de ar, quatro sujeitos tinham classificação de Costa 1 a 4 e três deles apresentavam COSTA 0 e 5. Contudo, esses motoristas referiram utilizar o ar condicionado ou circulador de ar com pouca freqüência. Isto justificaria o fato de que 100% dos motoristas responderam que dirigem suas ambulâncias com a janela aberta na anamnese. Suas justificativas foram: calor, ventilação, evitar contaminação dos pacientes, pedir passagem com o braço para outro veículo e até mesmo, por motivo de segurança (falta de manutenção rotineira nas ambulâncias).
Podemos inferir que o fato dos motoristas dirigirem suas ambulâncias com a janela aberta, permitindo maior contato das orelhas do sujeito com o ruído do tráfego e da sirene, potencializa uma perda auditiva, pois 14 sujeitos foram classificados como COSTA (1988) 1 a 4 e 14 sujeitos foram classificados como COSTA 0 e 5. Contudo, notamos também que a orelha esquerda (diretamente exposta à janela aberta) não apresentou maior incidência de perda auditiva e nem em grau maior que a orelha direita. As alterações auditivas poderiam ser influenciadas pela suscetibilidade individual, ratificando o estudo de LINDEN (1996).
Em relação aos 14 indivíduos com COSTA 1 a 4, metade desses (N = 7) apresentou o fenômeno do recrutamento. Contudo, quanto mais sujeitos não apresentaram recrutamento (N = 11), maior o número com audição sem característica de PAIR (COSTA 0 e 5). A correlação entre presença de recrutamento e COSTA 1 a 4 (ocorrência de perda auditiva) foi considerado um dado estatisticamente significante: os pares de variáveis "Presença de recrutamento X COSTA OD" e "Presença de recrutamento X COSTA OE" apresentaram, respectivamente, p = 0,021 e p = 0,001 (Tabela 4). O fenômeno do recrutamento ocorre por uma redução na área dinâmica da audição, prejudicando o bem-estar emocional, social e profissional do sujeito (Azevedo et al., 1993; Momensohn-Santos e Russo, 2005).
A Tabela 4 analisou a correlação entre as categorias estudadas (questões referentes à anamnese) na classe profissional de motoristas de ambulância do ER e HCFMUSP. Dentre os diversos pares de variáveis cujo p foi estatisticamente significante, destacamos duas principais. Dentre os sujeitos que responderam sentir incômodo com o ruído da sirene (N = 18), existiu uma relação positiva: quanto mais sujeitos referiram sentir muito incômodo a sons fortes, maior o número de dias/mês que dirigiam a ambulância. Portanto, quanto maior foi a ocorrência da primeira variável, tanto maior foi a segunda. O segundo exemplo refere-se a "Presença de incômodo X Uso mensal da ambulância", no qual ocorreu uma relação negativa: quanto menor o número de motoristas (N = 10) que não referiram incômodo com o ruído da sirene, maior o número de dias/mês que dirigiam a ambulância. Assim, quanto menor foi a ocorrência da primeira variável, tanto maior foi a segunda.
Outros pares de variáveis presentes na Tabela 4 foram importantes para este estudo, apesar de não ter havido uma correlação estatisticamente significante entre a presença e/ou grau de incômodo com a classificação de COSTA (1988), tampouco com a presença do recrutamento. Podemos inferir que a presença da perda auditiva ou do recrutamento não tiveram influência na presença e no grau do incômodo. Por outro lado, a correlação positiva entre o tempo de profissão e a referência ao incômodo, levou-nos a refletir sobre a influência de fatores não-auditivos, que afetam o bem-estar do sujeito (CORRÊA FILHO et al., 2002; BALBINOT e TAMAGNA, 2002; NERI, SOARES e SOARES, 2005; SANCHES, 2003; SILVA e MENDES, 2005; SOUZA e SILVA, 2005).
CONCLUSÕESO presente estudo nos permitiu concluir que:
-A ocorrência de Perda Auditiva Induzida pelo Ruído (PAIR) foi de 50% (N = 14) nesta amostra, que envolvia motoristas do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo;
-Não houve diferença estatisticamente significante entre a PAIR nas orelhas direita e esquerda;
-Dentre os sujeitos que apresentaram Perda Auditiva Induzida pelo Ruído, 35,7% (N = 10) tiveram a presença do fenômeno do recrutamento.
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