INTRODUÇÃO A rinosseptoplastia tem como objetivos proporcionar uma função nasal adequada e um resultado estético satisfatório. É difícil definir a beleza da face objetivamente, mas pode ser caracterizada por uma combinação de simetria, proporções e relação harmônicas entre as estruturas.
Parâmetros usados em cirurgias estéticas faciais atualmente são baseados em POWELL e HUMPHREYS (1). Estes autores formularam relações adequadas entre a face e o nariz, definindo os ângulos faciais.
O objetivo deste estudo é comparar ângulos nasolabial, nasofrontal, nasomentoniano e nasofacial pré e pós-operatórios em pacientes submetidos à rinosseptoplastia no Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná.
MÉTODO Foram avaliados prospectivamente 37 pacientes submetidos à rinosseptoplastia no Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná no período de fevereiro a outubro de 2007. Estes pacientes apresentavam média de idade de 30±11 anos, variando de 16 a 60 anos, sendo 13 (36%) homens e 24 (64%) mulheres.
Todos foram submetidos à rinosseptoplastia sob sedação associada à anestesia local e as cirurgias realizadas por residentes em otorrinolaringologia do terceiro ano, sempre acompanhadas por um orientador.
A avaliação foi feita através de fotografias digitais. Os ângulos nasolabial, nasofrontal, nasomentoniano e nasofacial (Figura 1) foram medidos e comparados, antes e depois da cirurgia, usando o programa MB-Ruler nas fotos de perfil direito.
Figura 1. Ângulo nasolabial (A), nasofrontal (B), nasomental (C) e nasofacial (D).
O ângulo nasolabial é formado pela união da columela e do lábio superior; o ângulo nasofrontal é criado a partir do
nasion, tangenciando a glabela e o dorso nasal; o ângulo nasomentoniano se dá entre uma reta que tangencia o
nasion e a ponta nasal e outra que tangencia a ponta nasal e o pogonion; o ângulo nasofacial é definido pela inclinação do dorso nasal em relação ao plano facial e corresponde à projeção do nariz.
Dados obtidos foram tabulados e analisados com teste
t para amostras pareadas usando o programa SPSS 10.0 for Windows. Significância estatística foi considerada para p<0,05.
RESULTADOS Todos os 37 pacientes foram submetidos à rinosseptoplastia primária sob sedação e anestesia local. Nenhum paciente apresentou complicações no trans e pós-operatório.
Observou-se aumento médio de 8,6º no ângulo nasolabial (Figura 2), de 8,5º no nasofrontal (Figura 3) e diminuição de 2,3º no ângulo nasofacial (Figura 4), sendo que estas medidas apresentaram uma diferença estatisticamente significativa entre pré e pós-operatório. O ângulo nasomentoniano (Figura 5) aumentou, em média, 1,6º, diferença sem significância estatística. Valores detalhados das medidas destes ângulos podem ser observados na Tabela 1.
Figura 2. Correlação do ângulo nasolabial pré e pós-operatório.
Figura 3. Correlação do ângulo nasofrontal pré e pósoperatório.
Figura 4. Correlação do ângulo nasofacial pré e pós-operatório.
Figura 5. Correlação do ângulo nasomentoniano pré e pósoperatório.
Na Figura 6 são apresentadas fotos pré e pósoperatórias de uma paciente de 29 anos submetida à rinosseptoplastia fechada, técnica básica, associada a ponto interdomal. Esta paciente apresentava, no pré e pósoperatório, respectivamente, ângulo nasolabial de 79 e 96º; nasofacial de 36,9 e 37,6º; nasomentoniano de 123,4 e 126,3º e nasofrontal de 139,2 e 139,5º.
DISCUSSÃOSão poucos os artigos encontrados na literatura que demonstrem as medidas de ângulos faciais em pacientes após cirurgia estética facial. Conforme POWELL e HUMPHREYS (1), o ângulo nasolabial ideal é de 90 a 95o para homens e 95 a 110º para mulheres.
Neste estudo encontramos, em média, 107,6±7,5º no pósoperatório, com aumento estatisticamente significativo, comparando com o pré-operatório.
INGELS et al. (2) encontraram diferença significativa no ângulo nasolabial em pacientes submetidos à rinosseptoplastia aberta com colocação de poste columelar, ressecção da porção cefálica das cartilagens laterais inferiores e ambos os procedimentos associados, porém essa diferença não foi observada no grupo em que não foi realizada a colocação de enxerto columelar ou ressecção de cartilagem lateral inferior.
KURAN et al. (3) também observaram aumento significativo neste ângulo após a cirurgia.
WISE et al. (4) descreveram uma diferença de 1,41±3,33º no ângulo nasolabial, sem significância estatística entre pré e pós-operatório. Os dados apresentados por este autor diferem dos deste estudo, em que encontramos diferença de 8,6±9º, com aumento significativo após a realização da cirurgia.
CARDENAS et al. (5) descrevem uma técnica de sutura para corrigir ptose de ponta nasal, conseguindo ângulo nasolabial adequado.
É esperado um ângulo nasofrontal entre 115 e 130º e nasomentoniano entre 120 e 132º. Nos pacientes avaliados neste estudo foram encontrados valores de 145,8±7,6º e 124,4±4,6º, respectivamente. O ângulo nasofacial ideal é 36º, sendo o dos pacientes do estudo, em média, 35,4±4,4º.
CONCLUSÃOOs ângulos nasolabial e nasofrontal aumentam significativamente após a realização da rinosseptoplastia, enquanto o nasofacial diminui. Não foi observada alteração significativa no ângulo nasomentoniano com a realização da cirurgia.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1. Powell N, Humphreys B. Proportions of the aesthetic face. New York, Thieme-Stratton; 1984.
2. Ingels K, Orhan KS. Measurement of Preoperative and Postoperative Nasal Tip Projection and Rotation. Arch Facial Plast Surg. 2006, 8:411-415.
3. Kuran I, Tümerdem B, Tosun U, Yildiz K. Evaluation of the Effects of Tip-BindingSutures and Cartilaginous Grafts on Tip Projection and Rotation. Plast Reconstr Surg. 2005, 116(1):282.
4. Wise J, Becker SS, Sparano A, Steiger J, Becker DG. Intermediate Crural Overlay in Rhinoplasty; A Deprojection Technique That Shortens the Medial Leg of the Tripod Without Lengthening the Nose. Arch Facial Plast Surg. 2006, 8:240-244.
5. Cárdenas JC, Carvajal J, Ruiz A. Securing nasal tip rotation through suspension suture technique. Plast Reconstr Surg. 2006, 117(6):1750-5.
1. Doutor. Médico Professor do Departamento de Otorrinolaringologia da UFPR.
2. Doutor. Chefe do Departamento de Otorrinolaringologia do HC-UFPR.
3. Médico Residente em Otorrinolaringologia.
4. Médica Residente em Otorrinolaringologia do HC-UFPR.
5. Médica Otorrinolaringologista.
Instituição: Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná. Registro no Comitê de Ética da Instituição 1779.196/2008-09. Curitiba / PR - Brasil.
Endereço para correspondência:
Murilo Carlini Arantes
Rua Mariano Torres 401 - Apto 101 - Centro
Curitiba / PR - Brasil - CEP: 80060-120
Fax (+55 41) 3360-6291
E-mail: murilocarlini@yahoo.com.br
Artigo recebido em 12 de setembro de 2008.
Artigo aprovado em 17 de outubro de 2008.