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Ano: 2000  Vol. 4   Num. 1  - Jan/Mar Print:
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Homenagem ao Dr. José Cláudio T. Pires
Author(s):
Ivan Miziara
Palavras-chave:
Ao refletir sobre a "indesejada das gentes", em um de seus primeiros versos, Jorge Luís Borges disse:

"O essencial da vida fenecida
- a trêmula esperança,
o milagre implacável da dor e o assombro do gozo -
sempre perdurará."

São versos de fé, de certeza na vitória da vida sobre a morte. E, por isso, creio que servem à perfeição para descrever nosso sentimento a respeito de um colega que gozava, na clínica otorrinolaringológica do Hospital das Clínicas da FMUSP, de admiração e carinho da parte seus pares: José Cláudio Teixeira Pires, que, aos 52 anos, em 16 de março passado, veio a deixar abruptamente nosso convívio.

Jorge Luis Borges também me veio à mente, quando os editores desta revista me solicitaram este texto em nome de todos os colegas da Clínica ORL, porque foi motivo de minha derradeira conversa com Zé Cláudio, como todos o chamavam.

Sabedor de minha admiração pelo poeta de "Elogio da Sombra", dias antes de vir a falecer, ele ainda brincou ao se deparar comigo à entrada do hospital. A pretexto de reclamar que há algum tempo não nos víamos, ironizou: "E as leituras de Borges, como vão?".

Era uma brincadeira recorrente em nossas conversas, iniciadas lá pelos idos de 1983, eu ainda residente e ele já médico-assistente, durante os plantões de sexta-feira no Pronto Socorro Otorrinolaringo­lógico do HCFMUSP. Zé Cláudio não se conformava com minha admiração pelo "reacionário" bardo argentino e sempre que podia levantava polêmica acerca do assunto.

Formado na Escola Paulista de Medicina, José Cláudio veio para o Hospital das Clínicas da FMUSP realizar sua especialização no meio dos anos 70. Ao ser contratado pela Clínica Otorrinolaringológica, com seus ensinamentos sempre precisos, objetivos e práticos, com sua agudeza de raciocínio, colaborou para a formação (minha e de muitos outros iniciantes na carreira) como médicos e especialistas. É uma dívida eterna que teremos para com ele.

Vítima das "trapaças da morte - suja como o nascimento do homem" (mais uma vez Borges), ele deixa esposa, Zélia, e três filhos adolescentes. A eles, que mais que nunca deverão recorrer às forças do espírito para suportar a dor da tragédia, nós, colegas da Divisão de Clínica Otorrinolaringológica do Hospital das Clínicas, desejamos empenhar nossa solidariedade e tristeza, e dizer: assim como nos versos acima, o essencial da vida de Zé Cláudio sempre perdurará em nossos corações.

Ivan Miziara

Médico Assistente Doutor da Divisão de clínica Otorrinolaringológica do HC-FMUSP.
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