INTRODUÇÃO
A complexidade e a riqueza de detalhes da anatomia tridimensional cirúrgica do osso temporal humano faz com que o otologista necessite conhecê-lo profundamente antes de iniciar sua prática cirúrgica. Para isso, um dos passos necessários é despender várias horas de treinamento de dissecção em ossos temporais de cadáveres, o que nem sempre é possível fora dos meios universitários.
Cada osso temporal apresenta distinções anatômicas peculiares, de modo que a sua anatomia tridimensional deve ser adequadamente compreendida e "fotografada" em nossa memória. Portanto, para abordarmos o osso temporal é da maior importância o seu conhecimento detalhado e um treinamento frequente para evitar a perda dessa "memória fotográfica" e o prejuízo de nosso trabalho. Portanto, em nossa opinião o cirurgião otológico deve ter sempre disponível um local para seu treinamento e aperfeiçoamento.
Para o ensino anatômico do ouvido, principalmente em termos de graduação em medicina ou em áreas paramédicas, seus inúmeros planos cirúrgicos e estruturas microscópicas interrelacionadas são de difícil demonstração. Além disso, a escassez de peças anatômicas em vários centros universitários faz com que a aplicação da técnica de tridimensão seja de extrema utilidade. A realização da técnica de imagens em 3 dimensões propriamente dita já foi descrita em outro artigo nesta mesma revista.1
Este artigo tem o objetivo de mostrar imagens do osso temporal em 3 dimensões, comprovando sua importância no ensino e pesquisa da área.
MATERIAL E MÉTODO
Um osso temporal humano conservado em formol foi dissecado para demonstração de sua anatomia cirúrgica em 3 dimensões, usando-se as etapas adotadas e preconizadas no Manual de Dissecção do Osso Temporal.2
As imagens em 3 dimensões foram realizadas conforme descrição no artigo anterior. Para visualizar todo o seu potencial no ensino da anatomia cirúrgica do osso temporal, é necessário colocar os óculos especiais que acompanham esta revista e aguardar alguns segundos até que a imagem se forme com mais nitidez.
RESULTADOS
Os resultados da demonstração anatômica do osso temporal em 3 dimensões estão expostos nas figuras:
Figura 1. Superfície lateral do osso temporal, mostrando sua porção escamosa, o processo zigomático anteriormente, o processo estilóide inferiormente e o processo mastoídeo posteriormente. A espinha supra-meatal (de Henle) localiza-se superiormente à parede posterior do CAE. A linha temporal se estende posteriormente ao processo zigomático e superiormente ao CAE, sendo o limite superior da cavidade mastoídea em relação à fossa média. A zona crivosa corresponde à projeção de células mastoídeas na cortical da mastóide. O ângulo formado pela espinha supra-meatal e a linha temporal é usado como referência da projeção externa do antro mastoídeo.
Figura 2. Cortical da mastóide aberta, permitindo a visualização do seio sigmóide, bloco labiríntico, meato acústico externo e dura-máter da fossa média. Observe a noção de profundidade existente entre as estruturas.
Figura 3. Visualização em profundidade do bloco labiríntico individualizado, do canal de Falópio em sua 2a e 3a porções, do golfo da jugular aberto e da região atical, com a bigorna e martelo articulados.
Figura 4. Etapa subsequente da dissecção, após broqueamento da parede posterior do CAE e abertura dos 3 canais semicirculares.
Figura 5. Etapa final da dissecção, após abertura da cóclea, permitindo a visualização das escalas vestibular e timpânica.
DISCUSSÃO
O recente e contínuo avanço nas técnicas fotográficas e de informática permitiram a modernização dos métodos de desenvolvimento de imagens estereoscópicas. Além da melhora em termos de qualidade e da possibilidade de produção em grande escala, as imagens em 3 dimensões começaram a ser usadas com a finalidade de aperfeiçoar o ensino, uma vez que a visão tridimensional estereoscópica permite a real apreciação da profundidade dos objetos.
A partir de 1997, a Disciplina de Topografia Estrutural Humana e a Disciplina de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo iniciaram a produzir material didático estereoscópico com o objetivo de aprimorar o ensino médico. Além disso, ambas as Disciplinas começaram, mais recentemente, a ministrar cursos em diversos centros nacionais e internacionais com o objetivo principal de demonstração da complexa anatomia de alguns órgãos, entre eles o cérebro e o ouvido.
Em nossa opinião, o osso temporal humano, por sua complexidade cirúrgica inerente, é uma das estruturas cujo ensino específico da anatomia mais se beneficiou com o desenvolvimento da técnica de imagens tridimensionais. Como o campo de aplicação das imagens estereoscópicas na área médica é enorme (treinamento prático do profissional, transmissão de imagens à distância, realização de telecirurgias, etc), consideramos que sua incorporação no ensino pode ser de extrema utilidade.
Referências Bibliográficas
1. Ribas, GC; Bento, RF; Rodrigues Jr, AJ. Reproduções impressas de imagens tridimensionais estereoscópicas para ensino, demonstrações e documentações. Arquivos da Fundação Otorrinolaringologia 4(2): 48-54, 2000.
2. Bento, RF; Miniti, A; BOGAR, P; Caldas Neto, SC; Rodrigues Jr, AJ. Manual de Dissecção do Osso Temporal. 2a edição. Fundação Otorrinolaringologia, São Paulo, 1997.
Trabalho desenvolvido conjuntamente na Disciplina de Otorrinolaringologia e na Disciplina de Anatomia Topográfica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
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1- Professor-Associado da Disciplina de Otorrinolaringologia da FMUSP e Chefe do Grupo de Otologia da Divisão de Clínica Otorrinolaringológica do Hospital das Clínicas da FMUSP.
2- Professor-Assistente Doutor da FMUSP Disciplina de Topografia Estrutural Humana da FMUSP.
3- Médica Assistente Doutora da Divisão de Clínica Otorrinolaringológica do Hospital das Clínicas da FMUSP.
4- Médico Assistente e Doutorando do curso de Pós-Graduação da FMUSP.
5- Professor Titular da Disciplina de Topografia Estrutural Humana da FMUSP.
6- Professor Titular da Disciplina de Otorrinolaringologia da FMUSP.