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Ano: 2002  Vol. 6   Num. 3  - Jul/Set Print:
Original Article
Avaliação Histológica do Corneto Inferior após Turbinectomia Parcial
Histologic Evaluation of the Inferior Turbinate after Partial Turbinectomy
Author(s):
Marconi Teixeira Fonseca*, Carlos Alberto Ribeiro**, Paulo Augusto K. Araújo***, Aureliano C. Barreiros****, José Miranda A. Júnior****.
Palavras-chave:
turbinectomia parcial, corneto inferior, alterações vasculares, histologia.
Resumo:

Introdução: Não está bem definido na literatura a ocorrência de alterações vasculares na região do corneto inferior previamente submetido a turbinectomia inferior. Objetivo: Detectar possíveis alterações vasculares na mucosa do corneto nasal inferior previamente submetido a turbinectomia parcial. Material e Métodos: Foram avaliados 21 pacientes submetidos à biópsia da mucosa nasal de corneto inferior após turbinectomia parcial, sendo 11 do sexo masculino e 10 do feminino, com idade variando de 18 a 60 anos. Os fragmentos foram conservados em formol e enviados para estudo histológico por microscopia de luz. Resultados: As amostras colhidas apresentaram aspecto típico de epitélio do trato respiratório superior, não sendo encontradas alterações do tecido vascular. Conclusão: O aspecto histológico encontrado na mucosa da região do corneto ressecado é semelhante ao da mucosa normal.

INTRODUÇÃO

As estruturas internas nasais, incluindo os cornetos, regulam o fluxo aéreo nasal, umidificando e filtrando o ar inspirado (1,2).

Quando o tratamento clínico é inefetivo para tratar a obstrução nasal secundária ao aumento dos cornetos inferiores, os procedimentos cirúrgicos estão indicados. O corneto hipertrófico pode ser reduzido por ressecção mucosa (turbinoplastia), ou por ressecção osteomucosa (turbinectomia) total ou parcial, eletrocauterização, crioterapia, ou vaporização a laser (3). A maioria destes procedimentos promove ressecção parcial do corneto inferior com conseqüente formação de processo cicatricial no local. A ocorrência de algumas complicações pós-operatórias está bem definida na literatura, tais como sinéquias, rinite atrófica, obstrução nasal persistente, epistaxe, alteração da sensibilidade nasal, rinorréia ou secreção pós-nasal, secura nasal e sinusite crônica (3,4-7).

Também está bem clara a relação do aparecimento de granuloma piogênico e hemangioma ósseo após trauma acidental ou cirúrgico da fossa nasal (8,9).

Entretanto, ainda não está bem definida a ocorrência de alterações vasculares na região do corneto previamente operado e que passou por um processo de cicatrização (10). Tendo em vista estes dados, poderíamos questionar uma possível relação entre cirurgias prévias na mucosa nasal e o aparecimento de alterações histológicas dessa mucosa, predispondo ao surgimento de tumores vasculares. Este estudo teve como objetivo detectar possíveis alterações vasculares na mucosa de corneto nasal inferior previamente submetido a turbinectomia parcial.

MATERIAIS E MÉTODOS

Foram estudados 21 pacientes, 11 do sexo masculino e 10 do sexo feminino, de 18 a 60 anos de idade, com média de 32,7 anos, que haviam sido submetidos a turbinectomia parcial em corneto inferior, no período de fevereiro de 1997 a agosto de 2000. Na primeira visita, os pacientes foram submetidos a uma consulta otorrinolaringológica, exame clínico geral e otorrinolaringológico.

Também foram solicitados exames propedêuticos de prova de coagulação (tempo parcial de tromboplastina ativada, atividade de protrombina) e provas de função hepática. Foram incluídos no estudo indivíduos de 18 a 60 anos de idade, de ambos os sexos, submetidos a turbinectomia parcial uni ou bilateral do corneto inferior, com ausência de história de lesões nasais prévias ou epistaxes, bem como de distúrbio de coagulação, renais ou hepáticos. Foram excluídos do estudo os pacientes que apresentaram lesões nasais ao exame otorrinolaringológico (tumorações, vegetações, ulcerações ou lesões granulomatosas), processos infecciosos locais ou sistêmicos, uso atual de qualquer medicamento tópico nasal ou dos seguintes medicamentos sistêmicos (hormônio anticoncepcional oral, anti-hipertensivo, anti-histamínico, corticóide e anticoagulantes), exposição a irritantes nasais (cloro, cigarros, pó de madeira, cromo, solventes e outros), doença psiquiátrica, renal, hepática, cardíaca grave ou descompensação metabólica, hipersensibilidade a anestésicos, gravidez, condições psicológicas ou familiares adversas. Na segunda visita após verificação de assinatura do termo de consentimento, cada paciente foi submetido à biópsia da mucosa conchal após prévia anestesia local com algodão embebido em neotutocaína a 2% por um período de dez minutos.

Foram colhidos por pinça de biópsia dois fragmentos ao longo da região inferior e anterior do corneto (leito cicatricial da turbinectomia).

Os fragmentos foram conservados em frasco com formol a 10% e enviados para estudo histopatológico. Após o procedimento, os pacientes receberam orientação para não assoar o nariz nem realizar esforço físico por 2 dias, instilar um conta-gotas de soro fisiológico 0,9% nas narinas 4 vezes ao dia por 1 semana e, no caso de dor, fazer uso de paracetamol 1 gota/Kg de até 6/6 horas. Também foram orientados quanto a possíveis complicações do procedimento, tais como dor, infecção, obstrução nasal e epistaxe. Os fragmentos colhidos foram incluídos para processamento em lâminas, que foram coradas por hematoxilina e eosina (HE) e coloração para fibras elásticas (orceína).

Foram realizados em média 20 cortes de quatro micra para cada caso e usado microscópio de luz do tipo Olimpus BX – 40, ocular com aumento de 15 vezes e 4 objetivas com aumentos de 4, 10, 40 e 100 vezes.

Todas as lâminas foram estudadas por um mesmo examinador que utilizou todos os aumentos descritos. Este estudo foi realizado no Serviço de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital Socor, após prévia análise e aprovação da Comissão de Ética e Pesquisa Médica da instituição.

RESULTADOS

As amostras colhidas apresentaram ao estudo histológico aspecto típico de epitélio do trato respiratório superior, com cortes de mucosa recoberta por epitélio pseudoestratificado colunar ciliado com algumas células caliciformes.

O córion mostrava hiperemia, edema, graus variáveis de fibrose e glândulas seromucosas. Os vasos apresentaram paredes delgadas, revestidas por células endoteliais sem atipias. Coloração para fibras elásticas (orceína) não mostrou alteração. Em três casos, notamos infiltrado inflamatório com predomínio de células mononucleares.

Em um dos referidos casos a população de eosinófilos representava em torno de 40% das células inflamatórias. Os pacientes estudados não apresentaram epistaxe persistente ou infecção. Oito pacientes apresentaram obstrução nasal e quatro dor leve, que cederam em até dois dias após o procedimento.

DISCUSSÃO

O tratamento cirúrgico dos cornetos nasais inferiores apresenta-se bem descrito na literatura quanto às técnicas empregadas, seus resultados e possíveis complicações. No entanto, os dados da literatura são escassos quanto a alterações microscópicas da mucosa nasal pós-operada e principalmente sobre a ocorrência de alterações vasculares.

PASSALI et al.(11) publicaram estudo retrospectivo com 382 pacientes e concluíram que a turbinectomia apresenta ótimos resultados tanto na resolução da obstrução nasal quanto no retorno da fisiologia nasal. MABRY (3) realizou um estudo de ressecção parcial do corneto inferior em 40 pacientes, com segmento de nove anos e que revelou seqüelas do tratamento como epistaxe, crostas, drenagem de secreção nasal anterior e gotejamento pós-nasal. Exame histológico 5 anos após a cirurgia demonstrou cicatriz com fibrose e marcante decréscimo na população das glândulas mucosas.

SCHMELZER et al.(7) avaliaram macroscopicamente a mucosa de pacientes submetidos a turbinectomia, com seguimento de nove anos, não encontrando alterações atróficas na mucosa destes cornetos em nenhum paciente.

WEXLER et al.(12) realizaram estudo histológico da mucosa nasal de corneto previamente operado, não encontrando alterações da ultraestrutura da mucosa nasal.

Ao exame com microscopia de luz e coloração por HE, identificou um típico epitélio do tipo respiratório pseudoestratificado colunar, com abundante distribuição de células globosas, lâmina própria com pouco tecido conectivo, moderado número de células inflamatórias e ilhas de glândulas seromucosas.

Muitos vasos sinusoidais foram encontrados profundamente no epitélio. Em nosso estudo os resultados do exame histológicos em todos os 21 casos foram compatíveis com mucosa nasal de típico epitélio do tipo respiratório pseudoestratificado colunar ciliado, ocorrendo, entretanto, um discreto aumento de fibrose em todas as lâminas estudadas.

O tecido vascular das amostras analisadas, objeto desse estudo, não apresentou alterações à microscopia de luz. Os resultados obtidos nos estudos de PASSALI et al. e no de SCHMELZER et al., constituem os mesmos obtidos em nossos pacientes. O nosso estudo histológico apresentou achados bastantes similares aos encontrados no trabalho de WEXLER et al., exceto pelo fato de termos encontrado tecido fibrótico na mucosa estudada, o que concorda com MABRY. Em nenhum desses estudos houve identificação de tumor ou alteração vascular.

CONCLUSÕES

Os achados histológicos identificados por microscopia de luz, da mucosa que se regenera na região de corneto submetido a turbinectomia, apresentam-se similares aos da mucosa nasal natural. As poucas alterações existentes não são suficientes para predispor a formação de tumores vasculares.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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* Coordenador do Serviço de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital Socor. Médico Colaborador da Disciplina de Otorrinolaringologia do Hospital das Clínicas da FMUSP.
** Professor de Anatomia Patológica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. Médico Patologista do Hospital Socor.
*** Médico Adjunto do Serviço de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital Socor.
**** Médico Especializando do Serviço de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital Socor.

Instituição: Trabalho realizado no Serviço de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital Socor – Belo Horizonte – MG – Brasil.
Endereço para correspondência: Dr. Marconi Teixeira Fonseca – Rua Juiz de Fora, 33 – Belo Horizonte /MG – Brasil – CEP 30180-060 – Telefone: (31) 3330-3005 –
Fax: (31) 3295-1941 – E-mail: otologica@uol.com.br
Artigo recebido em 20 de novembro de 2001. Artigo aceito com correções em 25 de abril de 2002.
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