Title
Search
All Issues
10
Ano: 1997  Vol. 1   Num. 2  - Abr/Jun Print:
Original Article
Versão em PDF PDF em Português
Critérios de Indicação de Implante Coclear.
Author(s):
Ricardo Ferreira Bento, Tanit Ganz Sanchez, Rubens Vuono de Brito Neto
Palavras-chave:
O Grupo de Implante Coclear do Hospital das Clínicas da FMUSP tem um protocolo de atendimento para os pacientes portadores de disacusia neurossensorial severa/profunda bilateral, visando seu tratamento através de aparelho de amplificação sonora (AAS) ou implante coclear. Acreditamos ser importante o acesso de todos os colegas a este protocolo para orientarem seus pacientes com surdez severa/profunda bilateral.

Também é nosso objetivo divulgar informações referentes à nova portaria do Ministério da Saúde em relação à cirurgia do implante coclear, para os implantes realizados pelos Centros/Núcleos devidamente credenciados, dentro de critérios específicos de inclusão e exclusão.

Uma vez diagnosticada a surdez severa/profunda após anamnese, exames audiológicos (Audiometria Tonal e BERA) e exames laboratoriais e radiológicos a critério clínico, cabe ao médico orientar o paciente quanto ao uso de AAS ou implante coclear.

Nos adultos pré ou pós-linguais:

O paciente é encaminhado para teste de prótese auditiva, onde é confeccionado molde auricular e adaptado AAS, escolhido entre vários modelos e marcas. O aparelho deve ser escolhido com base na adaptabilidade ao conduto auditivo externo, ganho de inserção e testes clínicos. O paciente permanece com o AAS por 1 mês e, em seguida, é realizado teste de sentenças abertas com AAS. Se houver menos de 30% de discriminação, o paciente é potencial candidato ao implante coclear. No caso de conseguir a adaptação de AAS nos parâmetros citados, este paciente é acompanhado por fonoaudióloga para avaliação da sua reabilitação com o aparelho.

Após avaliação do teste de prótese sem obter bons resultados (vide parágrafo anterior), é que o paciente passa efetivamente a ser potencial candidato ao implante coclear. Nesse momento, ele recebe informações amplas e gerais sobre o que é o implante coclear, a cirurgia propriamente dita, a reabilitação, os aspectos estéticos do aparelho, seus benefícios e suas limitações. Este material é impresso e o paciente poderá ler e discutir com sua família.

O paciente potencial candidato ao implante é encaminhado para a equipe de Fonoaudiologia onde fará avaliação da leitura labial e da fala, emitindo-se parecer se o mesmo está adequadamente reabilitado por método oral. Em caso negativo, o paciente será enviado para reabilitação.

Mais uma vez confirmado como candidato, agora pela avaliação fonoaudiológica, o paciente será avaliado pela equipe de Psicologia. Será avaliada sua motivação para o tratamento e afastada a possibilidade de doenças psicológicas que impeçam a cirurgia do implante e sua reabilitação. Igualmente, as pessoas de convívio próximo também são informadas e entrevistadas.

Após avaliação favorável das 3 equipes, são realizados os exames pré-operatórios de rotina (hemograma, coagulograma e glicemia de jejum). Nos casos de outras suspeitas clínicas, o paciente passa por avaliação prévia da Clínica Médica. É sempre realizada tomografia de osso temporal, com o objetivo de evidenciar a permeabilidade da cóclea. Nos casos de ossificação da mesma, será realizado implante extracoclear; caso contrário, o implante é intra-coclear.

O paciente é, então, submetido à colocação do implante coclear por técnica que será descrita no fascículo seguinte. Após a cirurgia, o paciente deve ser capaz de permanecer junto ao grupo de implante por cerca de 3 meses, além de poder contar com a possibilidade da seqüência da reabilitação em sua cidade de origem, principalmente se for criança.

Nas crianças, os critérios são semelhantes aos do adulto, com algumas ressalvas:

Serão incluídos os menores de 18 anos com surdez pós-lingual e os menores de 10 anos com surdez pré-lingual. Os pacientes pré-linguais entre 10 e 18 anos serão considerados à parte, dependendo do caso, podendo ou não ser incluídos.

Todos os casos também deverão testar prótese auditiva por pelo menos 3 meses. A incapacidade de reconhecimento de palavras em conjunto fechado, além da motivação familiar e de condições adequadas de reabilitação na cidade de origem, tornam a criança candidata ao implante coclear.

Em qualquer idade, serão excluídos os pacientes com surdez pré-lingual não reabilitados por método oral, com malformações envolvendo agenesia coclear ou do nervo coclear, ou ainda, com contra-indicações clínicas.

O implante usado em todos os casos é o FMUSP-1, desenvolvido pela Disciplina de Otorrinolaringologia da FMUSP e pela Divisão de Bioengenharia do Instituto do Coração do HCFMUSP, com as seguintes características:

a) sistema multicanal com 16 freqüências diferentes (de 250 a 6000 Hz) que podem ser estimuladas.

b) estimulação seqüencial: permite a estimulação das 16 freqüências em seqüência por um único eletrodo.

c) eletrodo único, com a vantagem de poder ser colocado extra ou intracoclear, conforme o caso.

d) processamento digital: permite alterações nas estratégias de codificação da fala sem modificação do hardware"" do sistema.

e) acoplamento transcutâneo com transmissão em onda de rádio, com menor risco de infecção e menor índice de problemas de contato elétrico.

O aparelho e todo o tratamento recebido são financiados pelo S.U.S., sem nenhum ônus para o paciente.

Os implantes estão sendo realizados normalmente. Os colegas que desejarem maiores informações para encaminhar seus doentes, poderão fazê-lo pelo telefone (011) 881-6769, com Dra. Tanit ou Dr. Ricardo Bento.

Os pacientes poderão procurar diretamente o Hospital das Clínicas, com carta referendada de outro serviço, para o agendamento da consulta no Serviço de Triagem localizado no 4o andar do Prédio dos Ambulatórios, sala 8, de 2ª à 6ª feira, das 7 às 10 hs, na Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 255 - São Paulo- Capital .

Para tentar mostrar o funcionamento do Ambulatório do Implante Coclear, realizamos um organograma dos fatos desde a chegada do paciente até sua aceitação para a cirurgia do implante coclear. Ressaltamos novamente que alguns casos não incluídos nesse esquema poderão ser estudados particularmente.

Organograma do Ambulatório de Implante Coclear do Hospital das Clínicas da FMUSP.


1- Professor Associado da Disciplina de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

2- Médica Assistente da Divisão de Clínica Otorrinolaringológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Doutoranda do Curso de Pós Graduação em Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

3- Médico Preceptor dos Residentes do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Doutorando do Curso de Pós Graduação em Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
  Print:

 

All right reserved. Prohibited the reproduction of papers
without previous authorization of FORL © 1997- 2024