INTRODUÇÃO
As glândulas salivares menores estão presentes em todo o trato aero-digestivo alto. Este tecido pode ser origem de tumores benignos e malignos. Sua incidência entre todos os tumores de glândulas salivares é variável entre 9 e 18%1,2.
O adenoma pleomórfico de glândulas salivares menores é raro e, quando ocorre, o sítio mais comum é o palato (50 a 60%), seguido do lábio superior. A base da língua é um sítio bastante raro1,3,4.
Este estudo apresenta um caso de adenoma pleomórfico de base de língua e discute seu diagnóstico e tratamento.
RELATO DE CASO
Paciente do sexo feminino, de 30 anos, com queixa de disfagia progressiva e odinofagia há 15 anos, e com exacerbação recente. O exame da cavidade oral não mostrava lesão aparente, porém a laringoscopia direta com endoscópio rígido evidenciou massa na porção lateral direita de base de língua de aspecto submucoso, sem úlceras ou irregularidades, ou adenopatia cervical.
A tomografia computadorizada de cabeça e pescoço revelou lesão proeminente e infiltrativa na base da língua (Figuras 1 e 2). O tumor media 2 por 5cm e não ultrapassava a linha média.
A paciente foi submetida à biópsia por laringoscopia de suspensão, a qual diagnosticou adenoma pleomórfico. De acordo com as dimensões e localização deste tumor benigno, fêz-se faringotomia transhioídea, com boa exposição da lesão. O tumor foi completamente ressecado e a biópsia por congelação mostrou margens livres. O resultado definitivo mostrou adenoma pleomórfico (Figura 3). A traqueotomia não foi necessária e a paciente não apresentou aspiração laringotraqueal ou disfagia. Após 6 meses, a paciente permanece em bom estado, sem sinais de recidiva.
DISCUSSÃO
A ocorrência de tumores em glândulas salivares é aproximadamente 3% de todas as neoplasias3. A maioria destes tumores ocorre nas glândulas salivares maiores e 9 a 18% destes são originários de glândulas salivares menores1,2,3.
Aproximadamente 70% de todos os tumores de glândulas salivares são adenomas pleomórficos3, porém eles representam somente 2 a 2,4% dos tumores de glândulas salivares menores2. A ocorrência de adenoma pleomórfico de base de língua é rara2,4. De 1.320 tumores de glândulas salivares, revisados por Choudhary et al., em 19611,3, o adenoma pleomórfico foi o mais comum, representando (56%) de todos os tumores de glândulas salivares menores intra-orais. Somente 1% destes casos foram originários da base da língua. O diagnóstico deste raro tumor é relativamente fácil, sendo realizado pela inspeção da cavidade oral e pela laringoscopia direta2. Devido a que o crescimento destas lesões é predominante em regiões submucosas, e pela escassez de sintomas, estes tumores podem atingir tamanho considerável antes de serem diagnosticados5. Neste caso, a paciente apresentou-se com massa submucosa ampla que ulcerou somente após a biópsia.
Estudos de imagem, particularmente CT ou RNM, promovem informações sobre a natureza da lesão, lado do tumor, condições das estruturas adjacentes, assim como o envolvimento de linfonodos. A confirmação histológica é obtida por biópsia incisional profunda, com o intuito de obter-se amostra tecidual significativa2,5. Estes tumores mostram diversidade de padrões histológicos, como: células epiteliais ou pequenas estruturas ductais, que podem proliferar em forma de lâminas ou cordões, da mesma maneira que pseudocartilagem e queratina4. Estes tumores são, geralmente, bem circunscritos ou encapsulados, mas freqüentemente as células timorais atingem a cápsula4; portanto, certa margem de tecido normal deve ser retirada para prevenir recorrência.
A porcentagem de malignidade deve ser sempre considerada e toda a peça cirúrgica submetida a exame anatomopatológico.
O tratamento de escolha para adenoma pleomórfico de base de língua é a ressecção cirúrgica completa. Em pacientes idosos, que não apresentam boas condições gerais, a ressecção parcial do tumor deve ser considerada para a menlhora dos sintomas. Nestes casos, o seguimento cuidadoso é imprescindível2. Técnicas cirúrgicas diferentes podem ser utilizadas, como faringotomia lateral, via trasnhioídea mediana, faringotomia translingual mediana, mandibulotomia anterior e via suprahioídea mediana4,6. A via transhioídea foi originalmente descrita por Huet, em 19386, e foi indicada para laringectomia supraglótica. Em 1948, ele descreveu a mesma cirurgia para tumores de base de língua6. Os autores escolheram a técnica transhioídea pela ampla exposição que pode ser obtida, sem aumentar a morbidade.
BIBLIOGRAFIA
1. Willian J. F; Elzay, RP. Tumor of minor salivary glands. Cancer, 25: 933-941, 1970.
2. Giuseppe M. et al. Imaging case study of the mouth pleomorfic adenoma of the tongue base. Ann Rhinol. Otol. Laryngol., 105: 835-837, 1996.
3. Grewal D. et al. Pedunculate pleomorphic adenoma of the tongue base manifesting with dyspnea. J. Laryngol Otol., 98: 425-427, 1984.
4. Benton E. C. et al. Lesions of the minor oral salivary glands. Otolaryngol. Clin. North Am., 12(1): 38-40, 1979.
5. Helmuth G. et al. Salivary gland tumors of the base tongue. Arch. Otolaryngol., 102: 391-395, 1976.
6. Civantos, F; Wenig, Bl. Transhyoid resection of base and tonsil tumors. Otolaryngol. Head Neck Surg., 111: 59-62, 1994
1- Médicos Residentes do Departamento de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
2- Médico Assistente do Departamento de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
3- Médicos Residentes do Departamento de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
4- Médicos Residentes do Departamento de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
5- Médicos Residentes do Departamento de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
6- Médico Graduado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.