INTRODUÇÃO
Muitos estudiosos já contribuíram para a evolução da Otorrinolaringologia. Vários eram anatomistas, fisiologistas ou cirurgiões gerais, mas todos tinham uma característica em comum: a curiosidade. Essa curiosidade os levou a pesquisar a microestrutura da orelha e os mecanismos envolvidos na fonação, audição e proteção das vias aéreas superiores, entre outros enigmas do corpo humano. Isso terminou por resultar na criação de novos métodos diagnósticos e terapêuticos ao longo do tempo.
São esses cientistas que vamos conhecer um pouco mais a partir de agora, com o orgulho de encontrar um brasileiro entre eles.
QUEM FORAM ELES?
Bartolomeo Eustacchio (1.520-1.574): anatomista famoso por sua descrição da tuba auditiva (embora essa estrutura anatômica fosse conhecida desde a Grécia Antiga, coube a ele estudá-la em detalhe). Seu trabalho só veio a ser realmente conhecido no século XVIII, quando foram encontradas ilustrações anatômicas feitas por ele em placas de cobre, guardadas na biblioteca do Vaticano.
Gabriele Fallopio (1523-1.562): criou as denominações cóclea, labirinto, véu palatino e tímpano. Descreveu os nervos facial (incluindo seu importante ramo, a corda do tímpano), trigêmeo, vestibular e glossofaríngeo.
Thomas Willis (1.621-1.675): era professor de Filosofia Natural em Cambridge. Descreveu não apenas a irrigação arterial do cérebro (o polígono de Willis), como também o fenômeno de melhora da audição em ambientes ruidosos em alguns pacientes (a paracusia de Willis), que hoje é tida como um dos sintomas da otosclerose.
Antonio Maria Valsalva (1.665-1.723): era anatomista e cirurgião em Bolonha, tendo dissecado mais de 1.000 cabeças humanas. O primeiro a identificar a anquilose da platina do estribo como achado post-mortem, em uma paciente com surdez. Sua maior contribuição no campo da Anatomia foi o tratado "Sobre o Ouvido Humano", que continha a primeira descrição minuciosa da anatomia da orelha média e da fisiologia da audição. Foi dele a idéia de batizar a tuba auditiva como tuba de Eustáquio.
Giovanni Morgagni (1.682-1.771): professor de Anatomia em Pádua, autor de várias obras que descreviam em detalhe a anatomia da via aerodigestiva, com inúmeras ilustrações, inclusive do ventrículo laríngeo, que ele acreditava ser um reservatório de muco que lubrificava as pregas vocais.
Antonio Scarpa (1.747-1.832): era professor de Anatomia e Cirurgia, em Modena. Descreveu o papel da platina do estribo na janela oval, atuando em conjunto com a membrana timpânica para a fisiologia da audição. Identificou o sáculo e o utrículo no labirinto posterior.
Jean Marie Gaspard Itard (1.774-1.838): cirurgião militar, em Paris. Trabalhou para a educação e a reabilitação dos deficientes auditivos. Em seu livro, "Traité des Maladies de L'Oreille et de L'Audition" (1.821), foi o primeiro a dedicar um capítulo inteiro ao tratamento do zumbido.
Prosper Ménière (1.799-1.862): Descreveu a tríade vertigem, hipoacusia e zumbido, em 1.861, além de realizar diversos estudos de dissecção do labirinto.
Joseph Toynbee (1.815-1.866): otologista britânico. Foi o primeiro a descrever uma fístula do canal semicircular lateral, como via de disseminação de infecções da orelha média para o sistema nervoso central, em estudos de necrópsia.
Alfonso Corti (1.822-1.888): marquês italiano que realizou os primeiros estudos histológicos da orelha interna, identificando a microestrutura da cóclea.
Ernst Reissner (1.824-1.878): anatomista alemão que participou dos estudos de Corti, aprofundando os conhecimentos sobre a anatomia microscópica da orelha interna.
Adam Politzer (1.835-1.920): húngaro, professor de Otologia, em Viena. Publicou mais de 100 trabalhos originais, incluindo um Atlas de Otoscopia, com 392 figuras. Diz-se que atendia cerca de 12.000 pacientes anualmente, dada a fama de sua clínica. Poliglota (falava fluentemente alemão, inglês, francês e italiano), foi mestre de cerca de 7.000 médicos de várias partes do mundo que estagiaram com ele.
Friederich Bezold (1.842-1.908): foi quem descreveu a mastoidite, como entidade mórbida, inclusive podendo estender-se para a região cervical.
Gustav Killian: é considerado o Pai da Broncoscopia, tendo feito o primeiro exame dessa natureza em 1.896. Também foi o primeiro a remover um corpo estranho de laringe (um osso) em um paciente, através da laringoscopia direta.
Greenfield Sluder: otorrinolaringologista, em Saint Louis. Não foi o primeiro a utilizar a guilhotina para amigdalectomia, mas publicou um trabalho, em 1.912, no qual afirmava ter alcançado 99.6% de sucesso em suas cirurgias através dessa técnica.
Ermiro Estevam de Lima (1.901-1.997): otorrinolaringologista pernambucano, conhecido internacionalmente pelo acesso transmaxilar aos seios etmóide e esfenóide, para o qual criou a cureta que leva seu nome.
PARA SABER MAIS
1. Diagnosis and Treatment of Diseases of the Throat, Nose and Naso-pharynx. Carl Seiler. Philadelphia, Lea Brothers and Co., 1889.
2. Mackenzie, J.N. The physiological and pathological relations between the nose and the sexual apparatus of man. Johns Hopkins Hosp Bul, 82, 10-17, 1898.
3. Maladies du larynx, du nez e des oreilles. André Castex. Paris, Librairie JB Baillière et Fils, 1903.
4. Manuale di Oto-rino-laringoiatria. Guglielmo Bilancioni. Roma, Il Policlinico, 1915.
5. A History of Oto-Laryngology. R. Scott Stevenson e Douglas Guthrie. Edinburgh, E. S. Livingstone Ltd., 1.949.
6. Enfermedades del Oido, Nariz e Garganta. Lederer, F.L. Barcelona, Salvat Editores, 1953.
7. Neves-Pinto, R.M. Ermiro Estevam de Lima. Am J Rhinol, 11(4): 249-250, 1997.
1- Doutoranda do Curso de Pós-Graduação da Disciplina de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.