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Ano: 1998  Vol. 2   Num. 3  - Jul/Set Print:
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Flagrantes da Vida Real (de um Otorrino)
Author(s):
1Danilo Sanches
Palavras-chave:
Olá colega Otorrino.

Saudações!

Para amenizar as agruras de nosso dia a dia, iniciamos essa seção parodiando a antiga revista "Seleções do Readers Digest", onde pessoas escreviam para a revista contando casos ou passagens pitorescas de suas vidas, ou que tivessem ouvido de outras pessoas.

Tenho certeza que cada um de nós, na sua lida diária, já encontrou muitas situações curiosas, engraçadas, tristes ou estranhas, que gostaria de relatar aos colegas, aumentando, por tabela, nossa experiência no convívio com nossos pacientes e ajudando muitas vezes a sair de algumas situações difíceis. Lembre-se que aquelas situações "muito" difíceis poderão, atualmente, nos fazer acabar na frente de um promotor ou de um juiz de Direito.

Lembro-me que, há alguns anos, um colega nos relatou a seguinte situação:

Operou, como sempre fazia, em determinado dia da semana, várias crianças (adenoamigdalectomia), e foi cuidar de seus afazeres, orientando a enfermagem para a alta das crianças.

Alguns dias depois, sala de espera cheia, entra "bufando" pela porta o pai de uma delas, com 2 bolos de gaze mal cheirosas na mão, perguntando pelo médico. O colega, ouvindo os gritos, prontamente o atendeu e perguntou qual o problema.

O pai da criança explica: "Doutor, o senhor operou o meu filho outro dia, e olha o que ele tossiu fora hoje cedo!"

O médico: "Quantos dias faz mesmo que eu o operei?"

"Três", responde o pai.

Sem perder o jeito, o médico diz: "Que beleza, não é que cuspiu os tampões no dia certo?"

E lá se foi o pai, já calmo, não sem antes passar pela sala de espera, elogiando tão competente facultativo.

Já no plantão do Pronto Socorro da ORL do H.C., estávamos nós, às 05:00h da manhã, tentando descansar de um plantão mais concorrido, quando a enfermeira nos alerta que há um rapaz bem vestido que, com muita "delicadeza", porém de maneira firme, solicita a presença do plantonista, pois tem que comparecer a um casamento em poucos dias e quer fazer "plástica no nariz", que ele acha muito feio...

Em outro plantão de otorrino, a uma hora da manhã, sábado para domingo, um senhor de "Black Tye" e ficha de atendimento nas mãos, solicita ao plantonista para lavar-lhe os ouvidos.

"Por que não veio durante o dia?", perguntou o médico.

"É porque saí de uma festa e não tenho sono. Assim, já resolvo meu problema", responde o paciente.

O plantonista, então, resolve "castigar" o paciente "abusado", pega um tubo de uma gota emoliente qualquer e manda o paciente pingar o remédio de hora em hora, até às sete da manhã, argumentando que o cerúmen estava muito endurecido.

O médico foi deitar-se. Às sete horas levantou-se, chamou o paciente que, morrendo de sono, ao ter seus ouvidos lavados, ouvindo melhor diz: "Doutor, gostei muito. De agora em diante, virei sempre ao seu plantão lavar os ouvidos, pois se tivesse que lavá-los durante o dia, perderia muito tempo."

Outro colega, após atender um travesti com vertigem e zumbidos, fez os exames necessários e chegou à seguinte conclusão: "Minha cara, suas tonturas se devem ao fato de você tomar anticoncepcional há muito tempo, tentando evitar o crescimento de pêlos e arredondar suas formas. Você deve parar com o medicamento."

Veio a resposta: "Eu, hein! Não paro não. Tonta eu posso ficar, mas peluda nunca!!!"

Colegas, essas são algumas das muitas situações a nós relatadas, ao longo do tempo.

Escreva-nos, também, contando as situações pitorescas que você viveu ou soube ter acontecido. Até outra vez!

1- Médico Supervisor de Setor da Divisão de Clínica ORL do Hospital das Clínicas da F.M.U.S.P.
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