Aos colegas que assinam o Editorial do nº 2 (2) - 1998 dos Arquivos da Fundação Otorrinolaringologia.
Inicialmente devo felicitar os editores desta publicação, 1ª revista eletrônica de ORL, e que surgiu para dar uma maior difusão à ORL nacional.
No entanto, vejo-me obrigado a fazer algumas pequenas ressalvas ao artigo publicado às páginas 84/86, intitulado "Personagens da História da ORL".
Devo dizer-lhes que o assunto em foco foi muito bem lembrado, merecendo nossos parabéns e nosso incentivo à jovem colega.
Passo, agora a faze-las: 1) Pela introdução do artigo tem-se nítida impressão de que é único e consequentemente não terão seguimento. Assim sendo, julgo que numerosas outras figuras deixaram de ser citadas. Evidentemente que não seria possível enumerar todas, mas... 2) Diz a médica Aracy Balbani ao concluir a sua introdução: "São esses cientistas que vamos conhecer um pouco mais a partir de agora, com o orgulho de encontrar um brasileiro entre eles". À página 86: "Ermiro Estevam de Lima (1901-1997), Otorrinolaringologista pernambucano, conhecido internacionalmente pelo acesso transmaxilar aos seios etmóide esfenoide, para o qual criou a cureta que leva o seu nome". A mim que participo do Mundo ORL há mais de meio século, causou-me realmente espanto por algumas razões a seguir: a) foi a referência ao insigne Mestre da ORL Brasileira, uma das que menos linhas mereceu da articulista; b) "Otorrinolaringologista pernambucano", conhecido internacionalmente... que leva o seu nome. Meus comentários: Ermiro de Lima não foi um otorrinolaringologista pernambucano e sim um ORL nascido no estado de Pernambuco, Ermiro de Lima foi sim um ORL brasileiro, com vida ativa e brilhante na cidade do Rio de Janeiro por toda a sua existência. Foi ele o criador e 1º Diretor do Serviço de ORL do Hospital do IPASE (RJ). Foi professor de duas faculdades de Medicina do Rio de Janeiro, ambos os postos obtidos por brilhantes concursos. Prosseguindo, a via cirúrgica citada passou desde logo a ser conhecido mundialmente como "Operação de Ermiro de Lima" ou "Operação de Pletranton" (Itália) - Ermiro de Lima. Trata-se de um acesso transmaxilar aos seios etmoidal e esfenoidal e não aos seios etmóide e esfenoide, quando muito poder-se-ia falar em seios do etmóide e do esfenoide. Sobre a cureta, muito utilizada por todos, tem, indubitavelmente, uma importância bem menor do que a própria cirurgia: "Operação de Ermiro Lima" (executada num dos seus tempos com o auxílio de uma cureta, conhecia como cureta de Ermiro de Lima).
Ainda, julgo que, em se tratando de artigo não publicado em série, outros nome brasileiros e de países vizinhos, seriam dignos de uma citação: uma acurada pesquisa bibliográfica viria certamente traze-los à tona.
Ainda, dentre os estrangeiros, algumas marcantes personalidades deixaram de ser lembradas, e entre essas, o nome do meu querido e venerado Mestre Georges Portmann. Georges Portmann que muitos e muitos anos após a 1ª abertura do Saco Endolinfático em anima nobile, portador de Doença de Menière, (1926) foi considerado por iniciativa de otorrinolaringologistas dos EUA, como "Pai da cirurgia do ouvido interno" no início dos anos 80, em Denver, no Colorado.
O assunto em questão, salvo melhor juízo, deveria ter uma continuação pelo interesse e curiosidade que realmente tem.
Agradecendo a atenção pela publicação desta minha carta,
Cordialmente,
A. Médicis da Silveira
RESPOSTA
Prezado Doutor A. Médicis da Silveira
Seu e-mail datado de 14 de julho muito nos alegrou (e aqui incluo os editores da Revista Arquivos da Fundação Otorrinolaringologia), e externo nossa gratidão pelas suas felicitações. Respondendo às suas observações, cabe-nos esclarecer que: a) O artigo "Personagens da História da Otorrinolaringologia" é continuação do texto "Curiosidades da História da Otorrinolaringologia", publicado na Revista Arquivos da Fundação Otorrinolaringologia 1998; 2 (1): 40-41, a título de complementação das informações contidas no primeiro artigo, e, portanto, sem o intuito de iniciar uma série de textos com os "personagens". Lamentavelmente, não foi possível esgotar a bibliografia de todas as figuras ilustres de nossa especialidade no precioso espaço disponível, o qual necessitou ser aproveitado através da diversificação de assuntos; b) As poucas linhas dedicadas ao Mestre Ermiro de Lima não significaram, em absoluto, redução intencional de sua importância no contexto da especialidade. Elas foram resultado de uma pesquisa bibliográfica exaustiva na qual, para minha surpresa, a única referência que encontrei foi uma publicação norte-americana (grifo meu), o American Journal of Rhinology. Deste artigo dedicado à biografia de nosso Mestre, procurei extrair as informações que julguei mais relevantes dentro dos limites do meu conhecimento, mantendo o padrão de concisão na biografia dos "personagens" e evitando tornar o texto enfadonho; c) Discordo, em parte, de sua observação sobre ser um erro considerar Ermiro de Lima um otorrinolaringologista pernambucano em virtude de seu intenso exercício profissional no Rio de Janeiro. O adjetivo pátrio "pernambucano" foi empregado em alusão à origem do Mestre, o belo estado de Pernambuco (que tem razões de sobra para considerar Ermiro de Lima um filho ilustre...); d) O não seguimento da Nomina Anatomica com relação à denominação dos seios paranasais deu-se em virtude do caráter de "entretenimento", digamos assim, do texto, sem preocupação científica, mas voltado para uma leitura prazerosa ao final da Revista.
Por fim, reitero os agradecimentos a Vossa Senhoria pelo seu interesse na publicação, e em meu trabalho em particular. Fico satisfeito ao saber que o artigo motivou-o a contribuir para a Revista com sua carta, e, - quem sabe? -, com novas curiosidades da história e dos personagens da Otorrinolaringologia em futuros artigos de sua autoria, brindando os leitores com textos de agradável leitura e conteúdo enriquecedor, especialmente para os médicos mais jovens (estando eu entre eles).
Com protestos de elevada estima e consideração, subscrevo-me.
Respeitosamente.
Aracy P. S. Balbani