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Ano: 2009  Vol. 13   Num. 3  - Jul/Set Print:
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Caracterização dos Limiares Audiológicos em Trabalhadores de Urnas Funerárias
Characterization of the Audiologic Thresholds in Workers of Funeral Urns
Author(s):
Andréa Cintra Lopes1, Ana Carolina de Almeida2, Ana Dolores Passareli Mello3, Karina Aki Otubo4, José Roberto Pereira Lauris5, Cibele Carméllo Santos6
Palavras-chave:
efeitos do ruído, audição, perda auditiva, audiometria, saúde do trabalhador
Resumo:

Introdução: O avanço tecnológico industrial trouxe benefícios e uma série de implicações que podem comprometer a saúde e qualidade de vida do trabalhador. A exposição a agentes físicos, químicos e estressores organizacionais contribuem com o aumento dos riscos de acidentes de trabalho. O ruído, considerado como o agente físico mais frequente no ambiente de trabalho, pode causar alterações auditivas chamadas de Perda Auditiva Induzida pelo Ruído que afetam a comunicação e a qualidade de vida dos trabalhadores. Objetivo: Investigar a saúde auditiva de funcionários de uma fábrica de urnas funerárias. Método: Participaram desse estudo, 90 trabalhadores, entre 16 e 52 anos, expostos a níveis de pressão sonora igual ou superior a 85 dBNPS, vibração e/ou agentes químicos no ambiente de trabalho. Foi realizada, entrevista específica e Audiometria Tonal Liminar. Resultados: Este estudo identificou audiometrias alteradas na orelha direita em 13,33% e 16,67% na orelha esquerda sendo que a idade também influenciou nesses limiares auditivos. Conclusão: É imperativa a realização de programa de vigilância à saúde de trabalhadores em articulação com todos os envolvidos, colaborando na formação de recursos humanos, na gestão para executar as ações, assim como dos próprios trabalhadores tomando cuidado com sua saúde.

INTRODUÇÃO

No meio industrial o desenvolvimento é um fator preocupante se pensarmos nas sérias implicações à saúde física e psíquica dos trabalhadores, ocorrida com o aumento indiscriminado e não planejado da industrialização. O estado de São Paulo destaca-se como polo de pequenas e medias empresas. É comum encontrar pequenas empresas instaladas com investimento reduzido e pequeno números de funcionários, geralmente com pouca qualificação. Esse con-junto de caracteristicas vem acompanhado de falta de informação dos trabalhadores e dos empresários com relação aos riscos ocupacionais do ramo de atividade adotada.

Podemos encontrar vários agentes que em determinadas condições, podem comprometer a qualidade do ambiente de trabalho e consequentemente a saúde e qualidade de vida do trabalhador. Dentre os principais riscos ocupacionais em marcenarias são citados o ruído, poeira, vibração e agentes químicos, como a cola.

Estudos sobre ambientes de trabalho relatam que em industrias, podem ser identificados até nove agentes nocivos simultaneamente. Estudos sobre os efeitos combinados no trabalho, embora complexos, constituem um importante desafio na área de saúde do trabalhador (1). No entanto, um aumento de publicações sobre os efeitos combinados foi verificado, indicando um crescente interesse por uma abordagem menos restritiva para as explicações de nexo associativos, especialmente sobre a exposição a agentes químicos e ruído (2). Além da presença do ruído nos ambientes de trabalho, outros agentes combinados a ele representam risco potencial à audição, mesmo sob condições de exposição ao ruído relativamente baixa. Estes agentes compreendem os solventes orgânicos, asfixiantes químicos, metais e drogas ototóxicas (3).

O decreto 3048 da Previdência Social de 06 de maio de 1999 reconhece alguns produtos químicos como agentes ototóxicos, indicando que esse tipo de exposição deve ser considerada quando se examina o nexo causal entre uma perda auditiva e as condições do ambiente de trabalho (4). Em estudo, com dois grupos de indivíduos expostos a mesma intensidade de ruído industrial, sendo um desses grupos expostos ao cádmio e outro não, observaram uma perda auditiva concentrada principalmente nas frequências de 4000 e 6000 Hz, mais acentuada no grupo exposto ao ruído e ao cádmio, concluindo-se então, a provável ação ototóxica do metal cádmio quando associado à exposição ao ruído (5). Outro estudo comparativo realizado por meio de exames audiométricos, comparou dois grupos 155 metalúrgicos (18 a 50 anos) expostos ao ruído (GI) e a ruído e produtos químicos (GII) por um período que variou de 3 a 20 anos. Os resultados evidenciaram diferença significativa na proporção de perda auditiva ocupacional na OD entre os grupos I (3,6%) e grupo II (15,5%); proporção de perda auditiva ocupacional significativamente maior no GII (18,3%) em relação ao GI (6%). Concluíram que o GII apresentou proporcionalmente maior prelavência de perda auditiva quando comparado ao GI, mesmo tendo estado exposto aos agentes agressores por um menor tempo médio (6).

Estressores ambientais como ruído, calor, vibrações, pressões, radiações e agentes químicos como fumo, poeira, gases, vapores, são alguns dos encontrados em vários locais de trabalho (7). além desses, existem também os estressores organizacionais, que são àqueles relacionados à organização do trabalho, como turnos, rítmo e ergonomia, ou seja, a relação do trabalhador com suas tarefas. Combinados, eles podem ter uma série de efeitos sobre a saúde e bem estar dos trabalhadores, aumentando assim, o risco de acidentes de trabalho.

A Perda Auditiva Induzida pelo Ruído (PAIR) tem sido objeto de estudos no campo da saúde coletiva em função das alterações auditivas, afetando a comunicação e a qualidade de vida dos trabalhadores. O ruído é considerado como o agente físico mais frequente no ambiente de trabalho, sendo caracterizado como o fator de maior prevalência das origens de doenças ocupacionais (8). No Brasil, a PAIR está entre os principais problemas de saúde dos trabalhadores (7) e ocupa o segundo lugar entre as doenças mais frequentes do aparelho auditivo (10).

A PAIR foi descrita como uma patologia cumulativa e insidiosa, que progride ao longo dos anos de exposição ao ruído associado ao ambiente de trabalho. Seus sinais iniciais mostram o acometimento dos limiares auditivos em uma ou mais frequências entre faixa de 3000 a 6000 Hz (11). Também definida como uma diminuição gradual da acuidade auditiva decorrente da exposição continuada a níveis elevados de pressão sonora, provocando lesão nas células ciliadas externas e internas do órgão de Corti. É caracterizada por perda neurossensorial, irreversível, quase sempre bilateral e simétrica, não ultrapassando 40 dB (NA) nas frequências graves e 75 dB (NA) nas frequências agudas; manifestandose primeiramente, em 6000 Hz, 4000 Hz e/ou 3000Hz, estendendo-se às frequências de 8000 Hz, 2000Hz, 1000Hz, 500 Hz e 250 Hz. É de caráter irreversível e de evolução progressiva, passível de prevenção (12).

A PAIR, pode interferir na qualidade de vida do trabalhador, produzindo desvantagens e incapacidade auditiva como a redução da percepção da fala em ambientes ruidosos, televisão, rádio, cinema, teatro, sinais sonoros de alerta, músicas e sons ambientais. Desvantagens, sendo consequências não auditivas, influenciadas por fatores psicossociais e ambientais como, estresse, ansiedade, isolamento e auto-imagem pobre, as quais comprometem as relações do indivíduo na família, no trabalho e na sociedade, prejudicando o desempenho de suas atividades de vida diária (13).

Dentre os fatores que influenciam o risco de instalação de PAIR, destacam-se as características físicas do ruído (tipo, espectro e nível de pressão sonora), o tempo de exposição e a suscetibilidade individual (14).

O diagnóstico de PAIR depende da representação típica nos audiogramas e da comprovação da existência de exposição ao ruído no ambiente de trabalho, considerandose sempre a intensidade e a característica desse agente, assim como o modo de exposição (15).

Analisando a literatura consultada, pode-se observar que, em grande parte, os estudos realizados com trabalhadores, constataram que, o ruído pode causar sintomas auditivos como, perda auditiva, zumbidos e dificuldade na compreensão de fala; sintomas extra-auditivos, tais como alterações vestibulares, hipertensão arterial, transtornos neurológicos diversos, alterações na gestação, na excreção de cortisol, alterações no sono e transtorno na comunicação, bem como, sintomas comportamentais, nervosismo e estresse (5,13, 14, 16, 17, 18 e 19).

Estima-se que o risco de sofrer acidentes de trabalho é cerca de duas vezes maior entre trabalhadores expostos ao ruído. A exposição ocupacional ao ruído não só deteriora a saúde auditiva do trabalhador, mas também se constitui em fator de risco para acidentes de trabalho (17).

A vibração também é um agente de risco ocupacional associado ao ruído (18). A ação da exposição combinada aos riscos, ruído e vibração pode ocasionar um efeito sinérgico à saúde dos trabalhadores, os danos na orelha interna podem causar piora na audição, principalmente em frequências médias e baixas (20).

Um aumento sistemático do estresse e outros efeitos deletérios em trabalhadores expostos a essa combinação é maior em relação a trabalhadores expostos a um ou outro isoladamente (7-21). Neste estudo ainda concluiu que as queixas incluídas aos trabalhadores expostos a vibração de corpo inteiro foram: cefaleia, tontura, problemas de coluna, problemas de sono, hipertensão, ansiedade, nervosismo, desatenção, formigamento e esbranquiçamento dos dedos, zumbido e problemas de visão. Quanto aos audiogramas alterados, o grupo mais elevado foi o exposto a vibração transmitida por meio das mãos-braços.

Na literatura nacional, vários estudos com trabalhadores expostos ao ruído ocupacional apontam para alta prevalência de perda auditiva induzida por níveis de pressão sonora elevado - PAIR (22). Em estudo realizado 187 trabalhadores de indústria metalúrgica, o autor quantificou a ocorrência de alterações auditivas sugestivas de PAIR e seus principais sintomas. Os resultados foram 21% sugestivas de PAIR, 72% normais e 7% sugestivos de outras doenças. Os sintomas mais relatados foram dificuldade de compreensão da fala (12%), hipoacusia (7%), zumbido (13%); sensação de plenitude auricular (4%); otorreia (6%) e tonturas (12%) (14).

A prevalência de perdas auditivas foi estudada em trabalhadores do setor de produção de marmorarias. Avaliou-se 152 trabalhadores com a média de 30 anos de idade e 8,3 anos de exposição ocupacional ao ruído. Os resultados revelaram que 48% da amostra apresentou dano auditivo, com maior grau de perda auditivas na frequência de 6000 Hz. Dentre as audiometrias alteradas, 50% apresentaram perda auditiva induzida pelo ruído (PAIR) e 41% com início de PAIR. Entre os trabalhadores com PAIR, 57,1% apresentaram alteração bilateral, 17,1% em orelha direita e 25,7% em orelha esquerda. Entre aqueles com início de PAIR, 13,9% foram bilaterais, 19,4% em orelha direita e 66,7% em orelha esquerda (12).

O perfil audiológico de um grupo de militares foi estudado e os autores concluiram que dos 97% dos limitares incluídos no estudo, 38,1% apresentaram quadro otológico sugestivo de PAIR. As queixas de 25,8% dos sujeitos eram de perda auditiva e dentre os não queixosos, 30,5% apresentaram alterações audiométricas características. A perda auditiva encontrada foi mais intensa quanto maior a idade e tempo de serviço. Suas queixas principais foram: irritação com sons intensos (54,6%) e perda auditiva temporária (40,2%), 13,4% referiram zumbidos. Ainda concluiu que 64,59% dos militares examinados, não utilizaram proteção adequada nos exercícios de tiro (18).

O ruído como fator de estresse na vida de trabalhadores dos setores de marcenaria e serralheira foi investigado em 21 trabalhadores com idade entre 31 e 67 anos, por meio da audiometria e por questionário sobre estresse. Os resultados evidenciaram que 48% dos participantes com alterações auditivas e não observaram correlação entre perda auditiva e estresse (23).

Por meio de um estudo transversal, foram analisados dados clínicos e ocupacionais de 182 trabalhadores de uma empresa metalurgica. Os resultados evidenciaram 15,9% de casos sugestivos de PAIR, segundo a classificação de Costa em 1998, e não foram identificados associações significativas entre esses casos e as variáveis idade e uso regular de EPI (15).

Por meio de um estudo transversal com 184 trabalhadores de industria textil, os autores investigaram a prevalencia de PAIR. Os resultados apontaram 28,3% de PAIR, com predomínio de perdas auditivas de grau I, segundo a classificação de Merluzzi. Os sintomas mais frequentes foram dificuldade de compreeensão da fala (25%), zumbido (9,6%), plenitude auricular 5,8%, tontura 3,8% e otalgia 3,8%. Os autores concluiram que houve um aumento dos casos de PAIR com a idade e tempo de exposição (24).

Com o objetivo de verificar a prevalencia da PAIR no distrito industrial pesquisadores (25) investigaram o pro-grama de prevenção de perdas auditivas - PPRA de 89 empresas de diferentes setores de atividade econômica. Analisaram a última audiometria de 5372 trabalhadores. Constataram 1019 trabalhadores com perda auditiva, o que corresponde a 19%, dessas alterações 90,6% são do tipo sensorioneural.

Em outro estudo nacional, como objetivo de analisar os programas de controle do ruído em quatro metalúrgicas, os autores analisaram 741 trabalhadores, 41% apresentaram alterações auditivas (idade média de 42,3 anos; tempo médio de serviço de 16,7 anos). Em trabalhadores com mais de uma audiometria, 104 apresentaram deslocamento do limiar auditivo. Destes, 38 (36,5%) portadores de PAIR tiveram seus limiares auditivos agravados. 69,5% dos trabalhadores encontravam-se expostos a ruído superior a 84 dB(A). O estudo concluiu que os Programas de Preservação da Audição não estão sendo adequadamente conduzidos; a exposição ao ruído continua excessiva, mantendo-se o risco de desenvolvimento da PAIR (17).

A prevalência da perda auditiva em trabalhadores de manutenção de aeronaves foi investigada em 74 trabalhadores, incluindo 11 pilotos, 35 mecanicos e 28 da área administrativa, com idade de 31 a 50 anos de idade. Seus resultados indicaram alta prevalência de DA, alcançando 32,4% sendo maior entre os mecânicos, seguida dos trabalhadores de apoio e menor entre os pilotos (26).

A variação dos limiares auditivos de referência e final para cada frequência foi analisada por meio de um estudo de coorte retrospectivo de um banco de dados de 4.837trabalhadores que tinham pelo menos 2 audiometrias. Os autores constataram maior alteração dos limiares auditivos para a orelha direita, e que os trabalhadores com mais idade e tempo de serviço foram os mais afetados (27).

Considerando o elevado número de queixas de saúde e a possibilidade de alterações auditivas decorrentes da exposição ao ruído ocupacional fica evidente a necessidade da avaliação audiológica para o diagnóstico precoce da PAIR assim como para ações preventivas e coletivas, visando à conservação da audição e da saúde dos trabalhadores. Sendo assim, o objetivo deste estudo foi investigar a saúde auditiva de funcionários de uma fábrica de urnas funerárias, expostos a vários agentes químicos e físicos como por exemplo, o ruído, a vibração por serra elétrica, cola, e poeira.


MÉTODO

Trata-se de um estudo com delineamento transversal, com a participação de 90 trabalhadores de uma empresa de urnas funerárias do interior do estado de São Paulo. O estudo recebeu aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa, conforme processo nº 159/2008 e todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Participaram desse estudo, 90 trabalhadores, entre 16 e 52 anos, locados em uma fábrica de urnas funerárias, expostos a níveis de pressão sonora igual ou superior a 85 dBNPS, vibração e/ou agentes químicos no ambiente de trabalho. Os critérios estabelecidos para inclusão dos participantes nesta amostra foram tempo mínimo de 1 ano nesta fábrica. Como critério de exclusão, determinou-se: apresentar problemas neurológicos, psiquiátricos, fazer uso de medicação ototoxica ou deficiência auditiva com etiologia determinada. Os critérios utilizados para inclusão ou exclusão foram obtidos por meio da entrevista especifica.

Foi realizada inspeção visual do CAE com um otoscópio de marca Missouri, modelo TK007; realizada entrevista específica e Audiometria Tonal Liminar, realizada por meio do audiômetro da marca ACÚSTICA ORLANDI, modelo LO-250/TIPO3, com fones auriculares TDH-39, calibrado atendendo as normas de aferição de audiômetro de acordo com o INMETRO. Os exames foram realizados em cabina acústica da marca Vibrasom, com 14 horas de repouso auditivo, seguindo as recomendações da Portaria no. 19.

As audiometrias foram classificadas em 3 grupos, Grupo I, audiogramas sugestivos de audição normal; Grupo II, audiogramas sugestivos de PAIR, e Grupo III, audiogramas com outras classificações (28).

Método estatístico
Os valores observados nas variáveis estudadas foram arquivados no programa Microsoft Excel. Utilizou-se estatística descritiva por meio de médias, mediana, valores mínimos e máximos. Para analisar a diferença entre as médias foi utilizado o teste t-pareado. Foi utilizado o coeficiente de correlação Spearman a fim de verificar a correlação entre as variáveis de tempo de exposição ao ruído ocupacional e os limiares auditivos. Em todos os testes estatísticos adotou-se nível de significância de 5% (p < 0,05).


RESULTADOS

A partir das análises estatísticas foi possível traçar o perfil audiológico da população estudada. Primeiramente serão apresentados os dados obtidos quanto às características da população estudada. Dentre os 90 participantes, a idade mínima foi de 16 anos, e a idade máxima foi de 52 anos. Destes, 17 deles tinham idade entre 16 e 17 anos, e estavam na função de menor aprendiz. A faixa etária foi dividida em grupos, 88,66% dos participantes tinham de 16 a 35 anos, 8,88% entre 35 a 45 anos e 4,44% de 46 a 52 anos. Em relação ao sexo, 78 eram do sexo masculino (86,6%) e 12 eram do sexo feminino (13,3%). Para compreender a população estudada, o tempo de serviço variou de 1 a 10 anos de trabalho, assim como o tempo na função variou de 3 meses a 10 anos. Em relação à função ocupacional, optouse por analisar todos aqueles funcionários da empresa, dessa forma, o grupo constituiu-se de montador, assistente, cortador, lixador, lustrador, carpinteiro e marceneiro.

Todos os participantes não apresentaram impedimento para a realização da audiometria na inspeção visual do CAE (Tabela 1).

O Gráfico 1 apresenta a média dos limiares auditivos de todas as frequências estudadas, assim como da média tritonal das frequências médias (500Hz, 1kHz e 2kHz) e altas (3kHz, 4kHz e 6kHz) de ambas as orelhas por meio do Teste t-pareado, nenhuma frequencia estudada evidenciou resultado estatisticamente significante.

A Tabela 2 apresenta a média dos limiares auditivos de todas as frequências estudadas, assim como da média tritonal das frequências médias (500Hz, 1kHz e 2kHz) e altas (3kHz, 4kHz e 6kHz) de ambas as orelhas, além da mediana, desvio padrão, limites máximo, mínimo, superior e inferior.

A Tabela 3 apresenta o perfil audiológico da população estudada de acordo com a Classificação adotada (28), onde Grupo I apresenta audiogramas sugestivos de audição normal; Grupo II, audiogramas sugestivos de PAIR, e Grupo III, audiogramas com outras classificações.

Para verificar se a idade dos indivíduos estudados influenciaram sobre os limiares auditivos de ambas a orelhas foi realizado o Teste Coeficiente de Correlação de Pearson(p<0,05), indicou que foram estatisticamente significantes os limiares nas frequências 2, 3, 4, 6 e 8KHz nas orelhas direita e esquerda e também a frequência de 500Hz na orelha esquerda.



Gráfico 1. Apresenta a comparação entre as médias dos limiares auditivos das orelhas direita e esquerda realizado de todas as frequências estudadas e a comparação das médias dos limiares auditivos das frequências médias (500 Hz, 1 kHz e 2 kHz) e altas ( 3kHz, 4 kHz e 6 kHz).

A partir dos resultados com o Teste de Tukey para comparar as faixas etárias pode-se constatar que nas frequências de 2 kHz, 3 kHz, 4 kHz, 6 kHz, 8kHz da orelha direita; 2 kHz, 3 kHz, 4 kHz, 6 kHz e 8kHz da orelha esquerda e a média das frequências medias e altas bilateralmente apresentaram diferenças significante entre a faixa etária de até 35 anos e >45 anos, ou seja, o grupo de faixa etária ate 35 anos apresentou melhor limiar auditivo que o grupo com mais de 45 anos. Nas frequências de 250 Hz, 2 kHz, 4 kHz, 6 kHz, 8kHz da orelha direita; 2 kHz e 6 kHz da orelha esquerda e, a media da frequência medias e altas da orelha direita apresentaram diferenças estatisticamente significantes quando comparado o grupo com faixa etária entre 36 a 45 anos e maior que 45 anos, ou seja, o grupo com idade entre 36 a 45 anos apresentou limiares auditivos estatisticamente melhores comparados aos do grupo com faixa etária >45 anos. Na comparação entre o grupo com faixa etária de ate 35 anos com o grupo de 36 a 45 anos, o primeiro apresentou melhores limiares estatisticamente significante nas frequências de 1 kHz e 6 kHz da orelha esquerda.






DISCUSSÃO

Dentre os agentes que podem resultar em risco ocupacional, certamente o ruído aparece como o mais frequente; contudo, há outros agentes que oferecem risco, como os produtos químicos ototóxicos ou vibração, os quais podem vir a produzir perdas auditivas ocupacionais na ausência do ruído ou potencializar os efeitos da perda auditiva. Com base em investigações científicas, pode-se afirmar que a exposição simutânea a ruído e a produtos químicos ototóxicos produz efeito sinérgico, onde o efeito da exposição combinada é maior que a simples soma dos efeitos de cada agente isolado (3). Este estudo permitiu analisar a saúde auditiva em trabalhadores de urnas funerárias, os resultados evidenciaram, na média tritonal, o decréscimo auditivo nas frequencias mais altas, como pode ser observado na tabela II, ou seja, para média tritonal (500, 1000 e 2000Hz) da OD foi de 10,15dB, da OE foi de 10,22 dB, já a média tritonal de altas frequencias (3000, 4000 e 6000Hz) foi de 14,85 dB para OD e 15,15 dB para OE, resultados estes que corroboram com achados de estudo anteriores (5,11,12,22). Quanto a lateralidade, o fato de ter havido maior comprometimento da OE, como observado ainda na Tabela 2, tanto para as médias de 500, 1.000 e 2.000 Hz, assim como para 3.000, 4.000 e 6.000 Hz é controverso e merece ser pesquisado futuramente, pois alguns estudos revelam que a OE seria mais susceptivel à lesão por ruído (12) ou maior comprometimento na OD (627). É um assunto que merece ser discutido, já que há diferentes citações em estudos diversos, isto porque, há diversos fatores que interferem na lateralidade, incluindo a susceptibilidade individual (29).

A literatura aponta grande ocorrência do entalhe nas frequências de 4.000Hz ou 6.000Hz (2,10,12,14,15) ainda na Tabela 2 pode-se observar a prelavência do entalhe na frequência de 6.000 Hz, resultados concordantes com outros estudos (12), enquanto outros estudos relatam o entalhe na frequência de 4.000Hz (14,19).

Na Tabela 1 são observados os dados obtidos na anamnese, quanto ao EPI 76,67% referiram utiliza-los, dado este que pode ser atribuido pela adoção de medidas de proteção adotada pela industria pouco difundidas ou desconhecimento das formas de prevenção da deficiencia auditiva, com ênfase em medidas de prteção coletiva e, com uso de EPI (30). Quando trabalhadores da industria são expostos a ruido superior a 85dBNPS, sabe-se que poderão desenvolver perdas auditivas e a utilização de EPI é determinada (9,10,14,19,22,28), porém ainda não é claro se estas normas são aplicáveis para ruído de lazer, assim como há uma variabilidade de opiniões quanto a implementação de medidas para prevenção de perdas auditivas ao ruído de lazer. Neste estudo, dado preocupante observado na Tabela 1 quanto a exposição a ruído de lazer, mencionado em 97,78% dos entrevistados.

A prevalência de queixas em relação a presença do zumbido é descrita na literatura como uma queixa comum em trabalhadores que atuam em ambientes ruidosos, em estudos anteriores a queixa zumbido variou de 2, 76% (19) a 68,7% (13). Neste estudo a prevalência do zumbido foi de 93,33%. Em nenhum outro trabalho foi encontrado uma prevalência elevada como esta, em estudos anteriores.

Um dado preocupante, uma vez que a perda auditiva ocupacional é passivel de prevenção, foi a prevalência de alterações auditivas obtidas neste estudo, a Tabela 3 apresenta os audiogramas sugestivos de PAIR de acordo com a classificação adotada, ou seja, 13,3% na OD e 16,67% na OE, resultados similares foram citados em outros estudos (5, 14, 19), em outros trabalhos a prevalência foi maior que a encontrada neste trabalho (12, 17, 18), o que pode ser justificado pelos diferentes riscos ocupacionais além do ruído em que esta população estava exposta. Estes resultados são relevantes para o acompanhamento periódico com o objetivo de evitar a progressão da perda auditiva e apontam para a necessidade de investigar aspectos referentes à vibração e produtos químicos, uma vez que não houve a comparação de grupos expostos apenas a ruído ou vibração e produtos químicos. Deve-se ainda levar em conta os efeitos psicossociais, difíceis de serem mensurados.

Neste estudo, a idade e o tempo de serviço foram associados à alterações nos limiares auditivos, verificou-se um aumento dos limaires auditivos à medida que ocorreu o aumento da idade ou tempo de exposição, resultados estes que concordam com estudos anteriores (18, 19, 22, 27), o tempo médio de serviço dos trabalhadores variou de 3 meses a 10 anos de trabalho, assim como a idade variou de 16 a 52 anos, os achados audiométricos desses trabalhadores pode indicar que o tempo de trabalho na empresa indica, não necessariamente, o tempo de exposição ao ruído.

Por fim, considerando que a perda auditiva ocupacional é passivel de prevenção, há necessidade de maior investimento científico para viabilizar as estratégias de prevenção. Um trabalho educativo poderá modificar o comportamento nesta população de jovens trabalhadores, assim como dos empresários. Ambos, trabalhadores e empresa, serão responsáveis pelo cumprimento da legislação vigente. Dessa forma, os trabalhadores se beneficiariam com melhor qualidade de vida e empresários cumprindo seu papel com responsabilidade social.


CONCLUSÃO

Este estudo possibilitou evidenciar:
- audiometrias alteradas na orelha direita em 13,33% e 16,67% na orelha esquerda;
- a faixa etária influenciou nos limiares auditivos.


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1. Doutora. Professora Doutora.
2. Especialista em Audiologia. Fonoaudióloga Clínica.
3. Mestrado em Fonoaudiologia. Bolsista Fapesp.
4. Graduanda em Fonoaudiologia.
5. Doutor. Professor Associado do Departamento de Odontopediatria, Ortodontia e Saúde Coletiva da FOB-USP.
6. Fonoaudióloga. Mestranda do Programa de Fonoaudiologia da FOB/USP.

Instituição: Departamento de Fonoaudiologia - Faculdade de Odontologia de Bauru/USP.
Bauru / SP - Brasil.

Endereço para correspondência: Andréa Cintra Lopes - Alameda Dr. Octavio Pinheiro Brisolla, 9-75 Vl. Universitária - Bauru / SP - Brasil - CEP: 17043-101 - Caixa Postal: 73 - Telefone: (+55 14) 3235-8000 ramal: 8557 - E-mail: aclopes@usp.br

Artigo recebido em 24 de Junho de 2009. Artigo aceito em 16 de Agosto de 2009
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