INTRODUÇÃOIndivíduos com Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR) têm frequentemente vários sintomas, como zumbido, vertigem, diminuição gradual ou distorção no som e alterações na compreensão da fala. O PAIR é irreversível e permanente, mas pode ser prevenida através da utilização de protetores auditivos durante a exposição ao ruído. A magnitude da perda auditiva pode resultar de uma exposição excessiva ao ruído e de fatores associados tais como, nível de pressão sonora, duração, tipo de frequência do ruído, e as características do indivíduo exposto, a susceptibilidade à PAIR, idade, história prévia de alterações auditivas e história familiar de perda auditiva (1,2,3,4).
DIAS et al. avaliaram 284 trabalhadores verificando uma prevalência de PAIR de aproximadamente 63% e zumbido de 48%, encontrando associação entre perda auditiva induzida pelo ruído e zumbido (5).
Já OGIDO et al, obtiveram relato de zumbidos em 80,81% da população estudada, concluindo que as disfunções auditivas são queixas frequêntes e que a pesquisa e a avaliação das disfunções auditivas nos exames ocupacionais dos trabalhadores expostos a ruído é fundamental, pois sintomas como zumbidos, podem causar sofrimento e afetar negativamente a qualidade de vida dos trabalhadores (6).
Além de exposições ocupacionais, a perda auditiva, a queixa de zumbido e de vertigem tem sido associadas com o tabagismo, hipertensão, diabetes, envelhecimento, histórico de saúde e atividades de lazer, sendo que a incidência de sintomas no ouvido parece correlacionada com a exposição ao ruído durante a vida inteira (1-3-7,8,9).
A Presbiacusia, que é vista como a terceira condição crônica mais relatada pelos idosos, pode ser definida como a perda auditiva associada ao envelhecimento, refletindo a perda de sensibilidade auditiva associada ao envelhecimento avançado. O típico perfil audiométrico observado clinicamente na presbiacusia é de perda auditiva neurossensorial bilateral simétrica de alta frequência que progride com a idade, sendo que o zumbido surge como um sintoma muito prevalente e de alto impacto na qualidade de vida do paciente senil (10,11,12).
Estudo de FERREIRA et al, observou que o zumbido é um fator de intensa insatisfação no paciente idoso, por prejudicar suas atividades diárias além de proporcionar alterações emocionais e do sono, correlacionando a presença hipertensão arterial nos pacientes com zumbido embora não tenham encontrado correlação entre o grau audiométrico da perda auditiva e o nível de incômodo sentido pelo paciente (12).
O objetivo do estudo foi avaliar a prevalência de zumbido em idosos com e sem história de exposição ao ruído ocupacional.
MÉTODOUm estudo prospectivo foi realizado na UNOPAR em Londrina. O protocolo do estudo foi aprovado pelo comitê de ética da Universidade UNOPAR, com o número PP/0063/09. Esta foi a primeira grande pesquisa rigorosa de examinar 502 idosos na cidade em questão. Os indivíduos foram enviados pelo projeto EELO.
A anamnese incluiu questões sobre idade, sexo, queixa de perda auditiva, zumbido, relacionadas com o trabalho histórico de exposição ao ruído e a história médica. A avaliação audiológica foi realizada individualmente em uma cabine à prova de som com um audiômetro Interactoustics.
A regressão logística foi usada para controlar confusão ou modificação de efeito para as outras variáveis sobre as associações de interesse. Variáveis de confusão que tinham valores de até 20% de associação com história de ruído ocupacional (modelo univariado) foram inseridas no modelo ajustado de regressão logística. Os procedimentos foram realizados utilizando o software Bio Estat, versão 5.0, adotando um nível de significância de 5%.
RESULTADOSPara o presente estudo foi realizado o cálculo de amostra onde o resultado foi de 382 indivíduos necessários para extrapolar os resultados do estudo à população envolvida na pesquisa.
Considerando possíveis perdas no decorrer da coleta de dados, foram avaliados 519 pacientes, dos quais 502 pacientes foram incluídos nesta pesquisa e 17 pacientes foram excluídos da pesquisa devido à falta em um dos dias de avaliação.
Dos 502 pacientes incluídos no presente estudo, 366 não tinham história de exposição ao ruído ocupacional, representando 72,90% da amostra, 136 apresentaram histórico de exposição ao ruído ocupacional, representando 27,09% da amostra.
Dos 502 sujeitos, 286 (56,97%) não apresentaram zumbido e 216 (43,02%) apresentaram zumbido. Dentre os 366 que não foram expostos ao ruído ocupacional, 148 apresentaram zumbido (40,43%) e 218 não apresentaram zumbido (59,56%).
Dos 136 expostos ao ruído ocupacional, 68 (50%) apresentaram zumbido e 68 (50%) não apresentaram zumbido (Tabela 1).
Ou seja, 68 sujeitos (13,54%) apresentaram zumbido e foram expostos ao ruído ocupacional, 68 sujeitos (13,54%) não apresentaram zumbido e foram expostos ao ruído ocupacional, 148 (29,48%) apresentaram zumbido e não apresentaram ruído ocupacional e 218 (43,42%) não apresentaram zumbido nem foram expostos ao ruído ocupacional.
Foi realizada estatística através do programa Bio Estat 5.0, utilizando o teste de qui-quadrado, onde se obteve o valor do qui-quadrado de 3,699 e p=0,0544, o que sugere que não existe diferença estatística entre indivíduos expostos ao ruído ocupacional e os não expostos, ao que se refere ao zumbido, quando avaliado sujeitos acima de 60 anos.
Também foi realizado o teste de regressão logística múltipla com 498 sujeitos, onde foram excluídos os pacientes que não haviam realizado alguma das avaliações das variáveis selecionadas: zumbido como variável dependente (y) e exposição ao ruído, idade, gênero, hipertensão e diabetes como variáveis independentes (x).
Observando os resultados pode-se observar que não houve diferença entre as variáveis independentes. Exposição ao ruído p=0,0580; idade p=0,8560; gênero p=0,7544; hipertensão arterial p=0,3006; diabetes p=0,4425 (Tabela 2).
DISCUSSÃODados do estudo populacional na área de gerontológica e geriátrico realizado na Suécia (13) indicam que a deterioração do aparelho auditivo relacionado à idade é mais pronunciada em homens idosos expostos ao ruído comparados com os não expostos ao ruído de 70 anos a idade 75.
No entanto, um dos fatores limitantes no que se refere ao diagnóstico diferencial das alterações auditivas em idosos é que, normalmente as alterações auditivas relacionada com a idade tendem a ser confundidas pelos efeitos anteriores da exposição ao ruído nos indivíduos empregados anteriormente em um ambiente de trabalho ruidoso (11). No presente trabalho possivelmente a não associação do zumbido com a história de exposição ao ruído pode ter ocorrido devido a esta associação do ruído à idade e a outras comorbidades existentes na população idosa.
Uma vida inteira de exposição ao ruído aumenta as probabilidades de efeitos negativos sobre o aparelho auditivo, mas é difícil determinar a interação entre o ruído, tais alterações e presbiacusia, uma vez que a presbiacusia tem uma etiologia complexa, incluindo tanto fatores intrínsecos e extrínsecos. A influência do ruído sobre a presbiacusia tem sido postulada em numerosos relatórios por quase um século, no entanto, é difícil identificar o ruído prolongado como um único fator para alterações auditivas em idosos (4-14).
As possíveis correlações entre a e história de exposição ao ruído ocupacional em idosos, revela um panorama complexo devido a variedade de fatores associados com a idade. Sendo difícil definir se as alterações auditivas no idoso são causadas apenas pela degeneração associada à idade (4-9,15).
O zumbido, independentemente da queixa auditiva, é um sintoma auditivo muito relatado por indivíduos expostos a níveis de pressão sonora elevados, sendo que vários estudos têm referido que a exposição prolongada do ruído ocupacional pode não somente levar a uma diminuição da audição, mas também ao zumbido e à hiperacusia além de que a exposição excessiva ao ruído é o mais importante fator de risco para a diminuição da audição e para o aparecimento do zumbido, seguidos da idade e do gênero sendo recomendada a inclusão do tema zumbido em programas de prevenção da perda auditiva a fim de promover a saúde auditiva dos trabalhadores (16).
Dada a alta prevalência de alterações auditivas na população idosa e as diferenças entre os grupos, há uma clara necessidade de compreender sua natureza e causas em vários grupos, a fim de melhorar a prevenção e desenvolver intervenções apropriadas (4-9,17).
CONCLUSÃOEste trabalho buscou verificar se a história de exposição ao ruído ocupacional é uma das causas do zumbido no idoso, porém, provavelmente devido a dificuldade na definição das causas das alterações auditivas no idoso, pelas inúmeras comorbidades presentes nessa população e pelo próprio processo de envelhecimento não se verificou significância entre a história de ruído ocupacional e a presença de zumbido nos mesmos. No entanto, a grande frequência de zumbido tanto na população com história de ruído ocupacional como naquela sem o histórico, mostra a necessidade de se estar atento a queixa de zumbido em idosos de modo geral.
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Juliana Jandre Melo1, Caroline Luiz Meneses2, Luciana Lozza de Moraes Marchiori3.
1) Mestre. Coordenadora do Curso de Fonoaudiologia - UNOPAR.
2) Mestranda em Ciências da Reabilitação UNOPAR/UEL. Fonoaudiólogia Clínica.
3) Doutora em Medicina e Ciências da Saúde / UEL. Professora do Mestrado em Ciências da Reabilitação da UNOPAR/UEL.
Instituição: Universidade Norte do Paraná - UNOPAR. Londrina / PR - Brasil. Endereço para correspondência: Campus Universitário de Londrina (Clinica de Fonoaudiologia - UNOPAR) Av. Paris, 675 Londrina / PR - Brasil - CEP: 86041-140 - Caixa Postal: 401 - Telefone: (+55 43) 3371-7775
Artigo recebido em 10 de outubro de 2011. Artigo aprovado em 26 de outubro de 2011.