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Ano: 1999  Vol. 3   Num. 2  - Abr/Jun Print:
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OTITE MEDIA SECRETORA - QUAL A IMPORTÂNCIA DA ALERGIA?
SECRETORY OTITIS MEDIA - WHICH IS THE IMPORTANCE OF THE ALLERGY?
Author(s):
1Sílvio A. M. Marone
Palavras-chave:
Muitos são os fatores etiológicos envolvidos e muitas vezes responsáveis pelo desenvolvimento e manuten- ção das doenças inflamatórias da orelha média. Na etiopatogenia da otite secretora, sabemos que a obstrução da tuba auditiva tem importância fundamental. Esta obstrução pode ser determinada por um processo viral, bacteriano ou alérgico (fatores intrínsecos) que produzem edema da mucosa que reveste a sua luz; ou ainda, por processos que nas vizinhanças do ósteo promovem obstrução da tuba auditiva, como nas hipertrofias das adenóides ou tumores (fatores extrínsecos).

Desta maneira, comprometem as suas funções de aeração, equipressão, drenagem, proteção da orelha média e audi ção. As disfunções tubárias podem ser transitórias e permanentes. São transitórias quando ocorrem na infância por características anatômicas próprias da tuba nesta idade, ou pela presença do tecido adenoideano hipertrofiado que geralmente diminui com a idade, cessando assim as inflamações.

São permanentes quando ocorrem nas malformações crânio-faciais como a fenda palatina. A ocorrência de secreção na orelha média, estando a membrana timpânica íntegra, se deve à criação de press ão negativa intratimpânica por comprometimento da fun- ção equipressiva, de aeração e de drenagem da tuba auditiva, seja pelos fatores intrínsecos ou extrínsecos anteriormente citados. Muitos autores referem que a alergia parece ter import ância significante na instalação da secreção na orelha média na população pediátrica.

A associação de anticorpos reatores com IgE propicia uma avaliação espec ífica para uma definição precisa da alergia, determinando uma informação significativa sobre sua influência nos quadros de otite secretora. A evidência do papel da alergia nos quadros de otite média secretora recorrente em algumas crianças mostra algumas abservações a favor desta etiologia: 1 - Muitos pacientes com otite secretora recorrente apresentam concomitantemente alergia respiratória.

A congest ão nasal ocorre com mais freqüência também em crianças com otite secretora persistente.

Se o catarro nasal for persistente, a chance de manutenção da otite secretora aumenta em cerca de 5 vezes. 2 - A ocorrência de um ou mais fumantes na mesma casa, aumenta o risco da manutenção da otite secretora em cerca de 3 vezes. 3 - A existência de um ou mais indivíduos com doenças alérgicas maiores na família. 4 - Presença de número elevado de eosinófilos no sangue periférico e nasal. 5 - Alta incidência de testes alérgicos cutâneos e Rast test positivos. 6 - Elevada taxa de IgE nas secreções de orelha média e no soro de algumas crianças. 7 - Presença de mastócitos na mucosa de algumas crian- ças com otite secretora. 8 - Em crianças com doenças atópicas documentadas (96% com rinite alérgica, 16% dermatite atópica e 57% com asma), encontrou-se achados otológicos assim distribu ídos: 49% com impedanciometria alterada, 27% com alterações audiométricas, 20% com otite média secretora (curva B à impedânciometria e disacusia condutiva). Estes fatores são aditivos.

Assim a ocorrência de congest ão nasal, fumo e atopia eleva para 6 vezes a chance da manutenção da otite secretora. Conclui-se que otite média secretora e problemas de orelha média são comuns em crianças com alergia respirat ória. Por outro lado, outras evidências são desfavoráveis à participação etiológica da alergia:

1 - Em casos de otite média secretora, menos de 1/3 dos pacientes são atópicos.
2 - A incidência de ocorrência da otite média secretora durante o ano (Primavera - Verão) é contrária à sazonalidade, quando as plantas e pólens causam mais quadros de rinites alérgicas (final da Primavera e início de Outono).
3 - Muitos estudos indicam a ausência ou pequeno número de células produtoras de IgE no fluido e na mucosa da orelha média.
4 - Falhas no tratamento de alguns casos de otite média secretora apesar da terapêutica anti-alérgica agressiva. Outro fator que tem sido descrito como responsável pela manutenção de alguns quadros alérgicos e pela perman ência de secreção na orelha média em crianças é a alergia alimentar.

Dá-se especial atenção, entre outros, à alergia ao leite de vaca, que possui componentes com vários graus de antigenicidade, sendo que a fração beta globulina é a mais freqüentemente responsável pela alergia alimentar nestes casos. De maneira geral, as manifestações clínicas de alergia ao leite de vaca são do tipo tardio e podem ser semelhantes àquelas apresentadas a outros alimentos.

Destaca- se anemia ferropriva, conseqüente à anorexia e à perda sangüínea decorrente desta doença.

À colonoscopia, pode-se evidenciar ulcerações de mucosa. Outras sintomas clínicos incluem manifestações do aparelho respiratório como rinite, sinusite recorrente e broncoespasmo.

A porcentagem de sensibilização a esta fração proteica do leite de vaca nos indivíduos alérgicos é da ordem de 66 a 82%. A ausência da beta lactoglobulina no leite materno é um dos motivos para considerá-la como um fator alergeno. Assim, o aleitamento materno torna-se um fator de preven ção. Os fatos mais importantes para o diagnóstico desta alergia são:

1 - História compatível.
2 - Desaparecimento dos sintomas após a eliminação do alergeno alimentar, o que muitas vezes se consegue na otite média secretora. Lembrar a possibilidadeda substituição pela soja.
3 - Recorrência dos sintomas com a re-introdução do alergeno alimentar.(teste de provocação oral).
4 - Testes laboratoriais e/ou cutâneo positivos.

LEITURA RECOMENDADA

Doenças do ouvido medio e mastoide. Marone, S. A. M. in Otorrinolaringologia Clínica e Cirurgia.Miniti, A.; Bento, R. F.; Butugan, O.; Livraria Atheneu Editora.1993.
Bluestone and Stool -Pediatric Otolayngology. Vol. 1. W. B. Saunders Company. 1983
Recent Advances in Otites media With Effusion. Lim, Bluestone, Klein, Nelson.Proceedings of the Third Simposium. B. C. Decker Inc. Fort Lauderdale, Florida. USA. 1983
The Eustachian Tube and Midle Ear Deseases, Clinical Aspects.Jacob Sadè.Papers selected from the Conference on the Eustachian Tube and Midle Ear Diseases, Geneve, Switzerland,1989
Basic Aspects of the Eustachian Tube and Midle Ear Diseases - Edited by Jacob Sadè. Kugler & Ghedini. 1991.

Endereço para correspondência: Divisão de Clínica Otorrinolaringológica da HC-FMUSP - Rua Dr. Enéas de Carvalho
Aguiar, 255 - 6º andar - CEP: 04030-000 - São Paulo / SP.

1- Professor Doutor da Disciplina de ORL do FMUSP.
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