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Ano: 2009  Vol. 13   Num. 2  - Abr/Jun Print:
Case Report
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Dente em Cavidade Nasal de Etiologia não Traumática: Apresentação Rara
Tooth in Nasal Cavity of Non-traumatic Etiology: Uncommon Affection
Author(s):
Henrique Fernandes de Oliveira1, Marcelo Braz Vieira2, Wady Miguel Santos Buhaten3, Caio Athayde Neves4, Giovanni Paolo Seronni5, Mário Orlando Dossi6
Palavras-chave:
cavidade nasal, cirurgia, dente.
Resumo:

Introdução: A presença de dente supranumerário ou ectópico não é fato incomum, sendo estimado ocorrer em 1% da população geral. Contudo, um dente em cavidade nasal constitui-se em evento raro, independente da etiologia. Objetivo: Relatar um caso de dente em fossa nasal cuja etiologia não foi traumática nem iatrogênica. Relato de Caso: Paciente jovem apresentou imagem radiopaca em fossa nasal quando em propedêutica odontológica. Durante investigação otorrinolaringológica, verificou-se tratar-se se dente, a despeito da inexistência de qualquer trauma. Foi realizado tratamento cirúrgico sem intercorrências. Comentários Finais: A presença de dente em fossa nasal, apesar de infrequente, deve receber atenção especial. O triângulo perigoso da face é local potencial de complicações, portanto, a abordagem deve ser cirúrgica, mesmo que o paciente esteja assintomático.

INTRODUÇÃO

A presença de dente supranumerário ou ectópico não é fato incomum, sendo estimado ocorrer em 1% da população geral (1), especialmente em crianças (2) e envolvendo a primeira dentição (3). Contudo, um dente em cavidade nasal constitui-se em evento raro, independente da etiologia. Pode ser sintomático ou não, sendo o diagnóstico clínico e radiológico (1). O tratamento deve objetivar a extração dentária, seja pela recorrência dos sintomas como pela localização no triângulo perigoso da face, local potencial de complicações (1).

O presente relato trata de paciente jovem com dente em fossa nasal, tendo o objetivo de destacar o fato da etiologia não ser traumática nem iatrogênica, sendo tal apresentação clínica ainda mais rara. Foi abordado com propedêutica adequada, através de imagens videoendoscópicas e tomográficas que possibilitam um planejamento cirúrgico seguro (3).

O relato evidencia, ainda, a necessidade de uma boa relação entre otorrinolaringologia e odontologia em benefício do paciente.


RELATO DO CASO

Paciente, G.S.C., masculino, 12 anos, cor branca, estava em tratamento odontológico quando, em propedêutica radiográfica, foi visualizada imagem radiopaca em região nasal. O paciente foi encaminhado a serviço de otorrinolaringologia para avaliação. Ao exame clínico, foi visualizada massa em assoalho da fossa nasal esquerda, a qual foi melhor caracterizada pela videoendoscopia nasal (Figura 1). Paciente assintomático negava qualquer trauma prévio envolvendo região crânio-facial. Foi solicitada tomografia computadorizada de seios paranasais (Figuras 2 e 3), a qual possibilitou a confirmação da existência de massa compatível com tecido ósseo dentário em cavidade nasal esquerda. O paciente foi submetido a tratamento cirúrgico sob anestesia geral, tendo sido utilizado endoscópico rígido de 30o durante o procedimento. Foi realizada infiltração local com lidocaína e adrenalina na concentração de 1:80.000. A extração do dente (Figura 4) foi realizada utilizando-se de um descolador entre os limites da massa óssea e o assoalho nasal, não tendo sido encontrada grande resistência para tal remoção. Não ocorreram anormalidades durante o procedimento.


Figura 1. Videoendoscopia nasal evidenciando massa em assoalho de fossa nasal esquerda.


Figura 2. Tomografia computadorizada - corte coronal evidenciando imagem radiopaca em fossa nasal esquerda.


Figura 3. Tomografia computadorizada - corte axial evidenciando imagem radiopaca em fossa nasal esquerda.


Figura 4. Dente após extração cirúrgica.



DISCUSSÃO

Injúrias odontológicas atingem 1,7% das crianças ao ano (2). Dentre as causas, a intrusão traumática, uma forma comum de incidente na dentição primária, atinge 11% das meninas e 15% dos meninos entre 0 e 12 anos, com pico entre 1 e 3 anos (2). Os incisivos primários centrais estão envolvidos em 80,8% dos casos. Por outro lado, etiologia traumática em dentição permanente é incomum (3).

Além do trauma, outras etiologias possíveis para a intrusão dentária em cavidade nasal são: infecção maxilar rinogênica, infecção odontogência, cistos maxilares, obstrução à erupção dentária e distúrbios do desenvolvimento, como fissura palatina (1). A prevalência de dente em cavidade nasal dentre os pacientes portadores de lábio e fissura palatina é de 0,48% (4). O paciente em questão não se enquadra nas estatísticas no que tange à etiologia, visto não ter sido alvo de trauma ou procedimento qualquer que pudesse ter resultado na intrusão dentária. E, ainda, não apresentava patologia associada que corroborasse para o achado.

O dente pode emergir no seio maxilar, côndilo man-dibular, órbita, palato, através da pele e cavidade nasal (5).

O dente em fossa nasal pode ser assintomático ou apresentar-se com sintomas e sinais sugestivos de processo rinossinusal unilateral: obstrução nasal, epistaxe intermitente, sinusopatia infecciosa recorrente, fístula oro-nasal, rinorreia, cefaleia e perfuração septal, geralmente coberto por tecido granulomatoso (1,5). O paciente não apresentara qualquer sintoma relacionado ao dente, tendo sido o achado ocasional. O mesmo foi retirado da fossa nasal sem cobertura mucosa.

O diagnostico é feito pelo exame clínico e radiológico, diferenciando de outras condições que se apresentam com sintomatologia similar, tais como: rinolito, corpo estranho, tumor (1). As imagens obtidas pela videoendoscopia nasal e tomografia computadorizada evidenciaram imagem radiopaca e remeteram atenção para um possível dente. Tal esclarecimento foi importante tanto pela exclusão de patologias potencialmente graves como para o planejamento cirúrgico, permitindo visualização dos limites anatômicos.

O tratamento compreende a completa extração do dente, mesmo nos casos assintomáticos, devido à recorrência dos sintomas e possíveis complicações: abscessos, deformidades dentárias e trombose do seio cavernoso (1). Abordagem endoscópica é recomendada pela menor morbidade, boa iluminação, visualização de estruturas adjacentes e dissecção precisa (3,6). Assim sendo, o paciente foi tratado cirurgicamente com auxílio endoscópico, o que certamente contribuiu para a exérese eficaz e ausência de problemas pós-operatórios.


COMENTÁRIOS FINAIS

A despeito da incomum apresentação ectópica em cavidade nasal, a etiologia não traumática, comum na faixa etária, e o caráter assintomático tornam o relato ainda mais peculiar. O tratamento realizado foi à extração endoscópica com telescópio de 30o, procedimento que cursou sem anormalidades, assim como sucedeu o pós-operatório.

Os profissionais de saúde devem atentar para a falta de dente após trauma facial pela possibilidade deste alojar-se em maxila, gengiva, cavidade oral, estômago, pulmão e trato rinossinusal (3).


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Moreano EH, Zich DK, Goree JC, Graham SM. Nasal tooth. Am J Otolaryngol. 1998, 19(2):124-6.

2. Thor AL. Delayed removal of a fully intruded primary incisor through the nasal cavity: a case report. Dental Traumatol. 2002, 18(4):227-30.

3. Wang LF, Tai CF, Lee KW, Ho KY, Kuo WR. Delayed removal of a fully intruded tooth in the nasal cavity after facial trauma: a case report. Otolaryngol Head Neck Surg. 2004, 131(3):330-1.

4. Medeiros AS, Gomide MR, Costa B, Carrara CF, das Neves LT. Prevalence of intranasal ectopic teeth in children with complete unilateral and bilateral cleft lip and palate. Cleft Palate Craniofac J. 2000, 37(3):271-3.

5. Lee JH. A nasal tooth associated with septal perforation: A rare occurrence. Eur Arch Oto-rhino-laryngol. 2006, 263(11):1055-6.

6. Kim DH, Kim JM, Chae SW, Hwang SJ, Lee SH, Lee HM. Endoscopic removal of an intranasal ectopic tooth. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2003, 67(1):79-81.










1. Graduação em Medicina/UFMG. Médico Residente Otorrinolaringologia.
2. Otorrinolaringologista Médico. Otorrinolaringologista do Hospital das Forças Armadas.
3. Otorrinolaringologista Médico. Otorrinolaringologista.
4. Graduação em Medicina/UnB. Médico Residente Otorrinolaringologia.
5. Graduação em Medicina. Médico Residente Otorrinolaringologia.
6. Graduação em Medicina/UFMS. Médico Residente Otorrinolaringologia.

Instituição: Hospital das Forças Armadas Serviço de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço. Brasília / DF - Brasil.

Endereço para correspondência:
Henrique Fernandes de Oliveira
Hospital das Forças Armadas
Avenida Contorno do Bosque s/n Clínica de Otorrino
Cruzeiro Novo - Brasília / DF - Brasil - CEP: 70658-900
Telefone: (+55 61) 3966-2350 / 8185-6177 - Fax: (+55 61) 3233-0812
E-mail: hfdoliveira@yahoo.com.br

Artigo recebido em 08 de Dezembro de 2007.
Artigo aceito em 31 de Julho de 2008.
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